Paixões no Deserto



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***

— Onde está Fahir? — perguntou o homem de aparência cansada. Ele havia cavalgado a noite inteira e estava exausto.

— Não sabemos. — respondeu Jordan. — Imagino que tenha saído com Lind, já que nenhum dos dois está aqui.

— Fahir foi para o oásis. — disse Maghrabi, surgindo ninguém sabe de onde.

Essa é uma das qualidades daquele homem formidável: ninguém ouve seus passos, e muitas vezes chego a me perguntar se ele é mesmo real ou apenas uma sombra que caminha no deserto.

— O que houve?

— Isto chegou ontem. É urgente. O próprio velho fez a entrega. — disse o homem, que procurava recuperar o fôlego. — Vim o mais rápido que pude, mas o deserto está cheio de estranhos e tive que mu­dar de rota para não ser visto.

Maghrabi olhou o conteúdo do saco de papel e saiu. Minutos depois, cavalgava velozmente pelo deserto. Por pouco não nos encontrou ainda deitados, completamente nus e alheios ao mundo que nos cercava.

Fahir estava brincando com meus cabelos e, muito antes de ouvir­mos o som de Maghrabi se aproximando, ele já estava em pé, atento a algo que eu não sabia o que era.

— Vista-se, A'ishah.

— O que foi? — perguntei aturdida.

— Alguém se aproxima. — Enquanto eu ainda começava a abotoar minha camisa ele já estava pronto, com a mão sobre o cabo trabalhado de sua espada.

Olhei para meu homem e novamente fiquei fascinada. Ninguém neste mundo era como ele. Ninguém!

— É apenas Maghrabi. — disse, com alívio, enquanto o outro se aproximava.

Fahir sabia que algo urgente deveria ter acontecido para que al­guém viesse ao seu encontro ali. Saiu da tenda e eu o segui assim que terminei de me vestir.

— Que o Altíssimo esteja contigo. — disse o homem, desmontando. Fahir respondeu com uma reverência e o primeiro continuou:

— Isto acabou de chegar. O homem que o trouxe cavalgou a noite inteira e está à sua espera.

— Sabe o que é? — perguntou Fahir, recebendo uma caixa de CD.

— O mensageiro disse que o velho em pessoa fez a entrega.

Velho? Que velho? Quanta coisa eu ainda não sabia...

— Como está, Srta. Hill? — perguntou Maghrabi com polidez.

Eu sorri em resposta.

— Precisamos voltar, A'ishah. Sinto, mas minha vida nem sempre é como eu gostaria que fosse. — disse ele, acariciando meu rosto diante da expressão de Maghrabi, que parecia ter mudado de uma seriedade militar para um sorriso de contentamento.

— Eu sei, meu amor. — disse, enrolando o rosto em uma das blusas para me proteger do sol, enquanto me preparava para montar.

— Boa mulher, Fahir. — sussurrou Maghrabi para seu líder. Mas seus olhos eram sérios. Algo estava para acontecer e meu príncipe sabia que o perigo havia chegado.

Cavalgamos de volta à fortaleza em total silêncio, cada um de nós presos a seus próprios pensamentos.

Assim foi o primeiro dia ao lado de meu amado. O primeiro dia de uma vida inteira cheia de lutas e surpresas, onde força e coragem se misturavam ao silêncio do deserto e ao som de incontáveis batalhas. Assim como calor e frio se unem para formar os mistérios do Saara, o perigo e o amor se uniriam para formar minha vida com Fahir.

***

Nu'man Mubharak rasgou o papel entregue pelo rapaz, que aca­bara de sair. Em seguida, queimou os pedaços e espalhou as cinzas. Pensou como era bem-vinda a tecnologia.

Alguns anos antes, ele vagaria durante dias pelo deserto, até encon­trar o local correto. Hoje, só precisava se deixar guiar pelo minicomputador conectado a um satélite.

Tamborilou os dedos sobre a escrivaninha por alguns segundos e então chamou Salah Halin.

O general insistira para que o ataque ocorresse durante a noite, mas ele preferia no final da tarde.

Nada lhe garantia que os conselhos do militar eram confiáveis. Ali­ás, o mais provável era que não fossem, e tão logo tivesse dominado as fortificações de Fahir, ele seria capturado, e quem sabe morto, pelas tropas do general.

Cobra mordendo cobra. Este era o seu negócio e ele o conhecia muito bem.

Salah entrou discretamente na sala e ouviu as ordens de Mubharak. Não demonstrou surpresa ou qualquer tipo de emoção, e nem fez per­gunta alguma. Qualquer deslize seria fatal, não apenas para ele, mas principalmente para Fahir.

Pensou em uma maneira de avisar seu líder de que o plano de Mubharak havia mudado e que o ataque ocorreria durante o dia, mas não viu como fazer isso sem expor sua condição de espião. A situação era extrema e pedia medidas extremas.

Foi então que ele teve uma idéia. Muito arriscada, com certeza, mas o que em sua vida não era arriscado?



***

O coronel Hudhayfah entrou no gabinete do general Jawhar e espe­rou pacientemente que o homem começasse a falar. Conhecendo bem o general, sabia que ele gostava de um certo suspense antes de chegar ao cerne das informações.

— Coronel, tenho uma missão para o senhor, que deverá ser execu­tada de forma rápida e em absoluto sigilo.

Hudhayfah continuava em pé, ouvindo atentamente.

— Junte os homens que espalhamos pelo deserto e destaque alguns de nossos melhores combatentes que tenham experiência no Saara.

O coronel não deixou que sua surpresa transparecesse. Exatamente como Salah agira ao ouvir as ordens de Mubharak.

— Esta noite, vamos acabar de vez com esses tamasheks e suas histórias. Não podemos mais permitir que nossa terra seja dominada por guerrilheiros e terroristas, que atacam acampamentos e raptam estrangeiros.

Hudhayfah sentiu os músculos do pescoço se tensionarem, mas permaneceu impassível.

— Se me permite, general... De quem partiram as ordens para agir­mos assim?

— Do presidente, é claro. — mentiu. — E nós devemos cumpri-las à risca!

Hudhayfah retirou-se, sentindo o peso da dúvida no peito. O presidente não agiria assim. Ou agiria? Governos mudam de idéia repen­tinamente, é verdade, mas há anos os projetos de Fahir para melhorar as condições dos tamasheks eram vistos com bons olhos pelas autoridades. Graças a eles, a paz reinava no país. Será que agora colocariam tudo isso a perder?

Pelo sim, pelo não, o coronel obedeceu as ordens e uma pequena tropa, usando trajes nômades, juntou-se no deserto, aguardando a ordem para atacar. Da mesma forma, por via das dúvidas, ele resolveu checar as instruções que havia recebido. Era o mínimo que poderia fa­zer numa situação daquelas.



***

Quando chegamos, encontramos Jordan e a Sra. Burton sentados no jardim. Fahir cumprimentou os dois e sumiu casa adentro, com Maghrabi atrás.

— Onde estavam? — perguntou Jordan com desdém.

— No deserto. — respondi.

— O que está acontecendo? O clima está tenso por aqui.

— Não sei. Maghrabi nos chamou de volta. Parece que chegaram notícias urgentes.

— Tomara que não seja nada sério. — comentou a Sra. Burton. — Estes últimos dias foram cheios de novidades.

— Fique tranqüila, mamãe. O Príncipe do Deserto, O Senhor das Dunas e sei lá mais o quê vai nos proteger de tudo! — disse Jordan com um tom de voz que me irritou.

— O que há com você? — perguntei séria. — Tudo isso é ciúme? Fahir não merece ser tratado assim.

— Ciúme? De onde tirou essa idéia? — perguntou ele, surpreso. — Por que eu teria ciúme? E de quem?

— Pare com isso, Jordan. — disse a Sra. Burton. — Fahir e Lind estão apaixonados, e é evidente que passaram a noite juntos.

Eu corei.

— É evidente também que você queria conquistar a moça, mas isso não é motivo para se voltar contra o amigo de tantos anos. Deixe de criancices e se comporte!

Naquele momento, a Sra. Burton ficou muito parecida com minha mãe, quando ela nos dava bronca e mandava para o quarto.

Deixei os dois conversando e fui atrás de Fahir, mas não sabia para onde ele tinha ido. Procurei por Samirtra, mas não encontrei.

Sem alternativas, estava subindo para meu quarto, quando Maghrabi apareceu, como sempre, como se surgisse das sombras:

— Srta. Hill, queira me acompanhar.

Segui o homem e entrei em uma parte da casa onde nunca havia estado. Atravessamos várias salas e descemos por uma escada oculta atrás de uma parede falsa. No final dela, havia um vasto salão, cheio de aparelhos de comunicação e rastreamento.

— Onde estamos? — perguntei espantada.

— Venha. Fahir a espera.

Em uma sala fechada, encontramos Fahir com expressão grave.

— A'ishah, quero que veja isto.

Sentei ao lado dele e assisti à cena, sem saber o que era. Dois homens, um em uniforme militar, conversavam em árabe, enquanto cami­nhavam por um jardim florido. Eu não entendia uma palavra sequer.

— Quem são? — perguntei.

— Este — Fahir apontou para o homem fardado. — é o general Abdul-Rafi Jawhar, comandante das tropas tunisianas. Este outro é Nu'man Mubharak, o homem que se coloca como meu inimigo feroz. O mesmo que mandou publicar a história do rapto nos jornais.

— E o que estão dizendo?

— O general faz uma proposta: entregar nossa localização a Mubha­rak para que ele pegue os diamantes e destrua este lugar. Em troca, usará o fato para mostrar que somos terroristas e que o governo da Tunísia nos encobria.

Olhei assustada para o homem que há poucas horas dormia em meus braços. Fahir continuou falando como se nada tivesse acontecido:

— Esta conversa aconteceu ontem pela manhã. Isso significa que a esta hora Mubharak já sabe onde estamos e se prepara para nos atacar esta noite.

— Quem enviou a gravação? — perguntei, aturdida. Era coisa de­mais acontecendo em tempo de menos e eu não conseguia processar tanta informação.

— O homem de confiança de Mubharak, Salah Halin. Ele é nosso aliado há tempos e nos mantém informado de tudo que acontece. Arriscou sua vida para que esta informação chegasse a nós, assim como o mensageiro que a trouxe. — respondeu Maghrabi.

— E o que pretende fazer? Quando vai sumir daqui?! — minha voz saiu mais estridente do que eu gostaria.

— Não vou, A'ishah. Vamos retirar as mulheres e as crianças. Os homens que quiserem poderão partir, mas eu preciso ficar.

— Você está louco? Vai arriscar sua vida assim? — protestei.

— Este é meu povo. Eu jurei defendê-lo, mesmo que o preço seja minha morte.

— Mas que bem você poderá fazer pelo povo se estiver morto?

— Também não poderei fazer bem algum desonrado. Fugindo, cairei em desgraça.

— Seu povo não está só na Tunísia, está por todo o deserto!

Fahir me olhou sério. Seus olhos haviam se transformado em duas chamas azuis e eu me assustei com o brilho neles.

— Esta ação de Mubharak servirá de pretexto para que outros paí­ses tomem medidas duras contra os tamasheks, tentando impedir que lutas se espalhem pelo deserto. Isso é exatamente o que Mubharak de­seja. — Sua voz era firme e eu vi que ele já havia tomado a decisão.

— Fahir, por favor... Eu não quero perder você, agora que o encontrei!

Maghrabi saiu da sala e nos deixou a sós.

— Eu amo você! Por favor, não faça isso!

Ele me abraçou.

— A'ishah, minha mulher. Antes de conhecê-la, eu duvidava... e agora, quem duvida é você. Não espero que entenda, mas que aceite. Esta é a minha vida. Se meu destino for tombar sob a espada do inimigo, que assim seja.

Agarrei-me a Fahir com força e ele me beijou suavemente. Um beijo de despedida?



***

Enquanto as pessoas iam deixando a fortaleza de Fahir, formando uma longa caravana que cruzaria o deserto num único bloco, a maioria dos homens se preparava para a batalha que estava por vir. Supliquei a Jordan que falasse com meu amado e o demovesse daquela idéia, mas nem ele, nem a Sra. Burton tiveram sucesso.

Nós também deveríamos partir, só que mais tarde. Soube que não cruzaríamos o deserto por terra - Maghrabi nos levaria de helicóptero. Era mais seguro para nós, estrangeiros, que poderíamos acabar usados como reféns naquela situação.

Chegaram notícias de que, além do grupo de Mubharak, havia outro se formando no deserto. Pelas roupas, pareciam tamasheks, mas ninguém os conhecia.

As informações davam conta de que esse segundo grupo se encontrava em posição estratégica, de onde poderia observar o avanço de Mubharak e seu exército de milhares de homens.

A tensão era grande entre as pessoas que partiam e as que ficavam, inclusive nós.

— Não vi helicóptero nenhum aqui. — comentei com Jordan, que, assim como eu, achava uma loucura o que Fahir pretendia fazer. Está­vamos na sacada do quarto da Sra. Burton observando as pessoas que lentamente se deslocavam pelo deserto.

— Está escondido. Isso aqui não é uma fortaleza à toa. Há mais nestas instalações do que se possa imaginar. — respondeu ele.

— Aquelas pessoas não serão atacadas? — perguntei, observando a caravana que partia.

— Duvido. Em sua maioria, são mulheres, velhos e crianças. Há certos códigos por aqui, Lind.

— Esse exército que vai atacar a fortaleza... Você sabe qual é o tamanho dele?

Jordan me olhou com seriedade.

— Dezenas de milhares.

— E o de Fahir? — meu estômago não queria ouvir a resposta.

— Um décimo disso...

Suspirei desalentada. Não queria ir embora, mas também não que­ria ficar. Até aquele momento, tudo havia sido como um sonho.

A voz de Samirtra parecia soar em meus ouvidos: Fahir sabe lidar com o perigo... A pergunta é: você sabe lidar com Fahir?

Ainda não tinha resposta para aquela pergunta.

— Onde está Samirtra? — indaguei a uma mocinha, que passava por mim carregando uma trouxa de roupas e suprimentos, enquanto eu descia as escadas.

— Ela não irá. Está em seus aposentos.

Saí em busca da mulher e a encontrei calmamente sentada, conversando com uma jovem de longos cabelos negros.

— Samirtra... Não vai partir? — perguntei afoita.

— Você vai? — ela devolveu minha pergunta com voz curiosa.

— Não sei o que fazer. Não entendo por que Fahir simplesmente não deixa este lugar.

— Ele não tem escolha. Você tem. O que irá fazer?

— Lindsay vai embora com os outros. Não posso permitir que corra riscos. Seu lugar não é aqui. — disse Fahir às minhas costas.

Senti tanta raiva dele naquele momento que tive vontade de esbofeteá-lo. Como meu lugar não era ali?

Sei que a situação era perigosa.

Sei que ele estava preocupado comigo, mas, naquele momento, isso não passou por minha cabeça. Meu orgulho falou mais alto. Eu não queria ninguém decidindo por mim!

— Não sei se vou embora. — respondi em tom de desafio.

— Você não tem escolha. — respondeu ele, surpreso.

— Se é seguro para você, também é pra mim! Por que acha que pode arriscar seu pescoço sozinho?

— Você não sabe o que diz, mulher!

— E você não sabe o que faz!

Fahir se preparava para me dar uma resposta definitiva, mas não teve tempo. Maghrabi entrou com notícias:

— Conseguimos transmitir a mensagem para o palácio, Fahir. O presidente está à sua espera.

Fahir seguiu o homem, apressado, e eu olhei para Samirtra em busca de apoio, esquecendo que ela não podia me ver.

— A hora se aproxima, A'ishah. Antes que a noite termine, você terá traçado seu destino. Agora me deixe... tenho muito o que fazer.

Não entendi o que ela poderia fazer de tão importante, mas obede­ci. Samirtra estava certa: antes da noite acabar, tudo estaria decidido.

***

A casa estava deserta. Todos já haviam partido e apenas eu, Jordan e a Sra. Burton permanecíamos ali, além, é claro, de Samirtra e dos ho­mens que se recusaram a deixar Fahir.

Meus amigos, parados a meu lado, observavam as areias que se perdiam na distância, coloridas de um amarelo dourado. O silêncio do lugar aumentava nossa ansiedade, criando um estado de espírito pesaroso.

— Estão prontos? — perguntou Maghrabi.

— Mas, já? Achei que iríamos mais tarde! — protestei.

— Mudança de planos. Mubharak está próximo. Devem ir enquanto ainda é seguro.

— Onde está Fahir? — perguntei.

Mas Maghrabi já havia desaparecido.



***

Quando sentiu que era seguro, Salah Halin procurou um telefone. Sabia que não conseguiria falar com Fahir, mas poderia informar outra pessoa. Alguém capaz de tomar as providências necessárias.

Aquela hora, Mubharak já devia estar junto de seus homens e tudo o que ele podia fazer era ajudar a roda do destino a girar em favor de seu líder.

Suspirou fundo e discou o numero do comissário Michell Adiva. Ainda não tinha terminado de falar com ele, quando sentiu as costas queimarem e as pernas enfraquecerem.

— Rápido, avise... presidente... Fahir... perigo...

Seu corpo tombou sem vida, uma adaga cravada nas costas com precisão por um dos homens de Mubharak.

Michell Adiva fez o que pôde, mas as notícias que levava não eram mais surpresa para as autoridades máximas de seu país. Antes dele, Fahir já enviara a mensagem, e antes o coronel Hudhayfah tinha pro­curado a Presidência para se informar sobre as ordens que recebeu do general.

— Estamos tomando todas as providências necessárias, comissá­rio. O general Jawhar não perde por esperar. — disse o emissário, com voz firme.

— Mas, senhor, os horários não conferem! — protestou Adiva.

— Todos, inclusive Fahir, informaram que Mubharak atacaria à noite. E, da mesma forma, o general. Assim que a fortaleza cair, ele capturaria os invasores.

— Mubharak vai atacar antes! — gritou o comissário com seu vo­zeirão de assustar. — Salah Halin garantiu que houve mudança nos planos. Mubharak não confia em Jawhar.

O emissário o encarou:

— Tem certeza do que diz, Adiva?

— Total, monsieur le émissaire.

— Neste caso — disse o outro, preocupado. —, talvez não consiga­mos chegar a tempo. Fahir sabe disso?

Non, monsieur. Salah me procurou por não conseguir falar com Fahir.

O homem fez um gesto estranho com os lábios, que demonstrava sua preocupação. Se eles não conseguissem chegar a tempo, Fahir teria que enfrentar sozinho a fúria de Mubharak.

***

Estávamos no pátio dos fundos da fortaleza, prontos para embarcar no helicóptero que nos levaria embora. Eu sentia o coração pesado e o peito doer. Tinha medo de ir e nunca mais ver meu amado. Também tinha medo de ficar e morrer ali, naquela terra distante.

Maghrabi fazia gestos para andarmos logo, mas eu não me mexia. Sabia que nos levar tinha sido ordem de Fahir, e Maghrabi não tinha gos­tado nada daquilo, pois, uma vez que levantasse vôo, não teria mais tem­po de voltar. Mas Fahir não confiaria nossa segurança a mais ninguém.

— Venha, Lind! Não podemos esperar mais! — gritou Jordan sob o barulho das hélices.

— Vamos, querida! Não temos o dia todo! — dizia a Sra. Burton, me pegando pelo braço.

Mas eu não me mexia.

Virei o rosto e vi Fahir correndo ao meu encontro.

Esperei por ele.

Esperei que me dissesse para ficar, mas ele só me abraçou e beijou minha testa com suavidade.

Jordan e a senhora Burton me aguardavam dentro do helicóptero. Minha cabeça estava vazia, como se eu não conseguisse mais pensar pelo peso que sentia na alma.

"Siga seu coração", disse Samirtra e eu pensava nisso quando co­mecei a caminhar para a aeronave.

Eram três da tarde e os homens de Mubharak já começavam a chegar. Vi Maghrabi gesticulando, vi os olhares preocupados de meus amigos. Virei novamente para Fahir e vi uma sombra de tristeza em seu semblante.

Num impulso, saí correndo e gritei:

— EU VOU FICAR!

Ele me segurou pelos braços e olhou intensamente. Pude ver todas as suas emoções naquele olhar: amor, medo, coragem, insegurança. Jordan saiu do helicóptero atrás de mim. Fahir acenou para Maghrabi e o aparelho levantou vôo, levando apenas a Sra. Burton.

— Você enlouqueceu?!? — gritou Jordan.

— Vou ficar com Fahir! Por que veio atrás de mim?

— Não podia deixá-la aqui sozinha! Você é maluca! — respondeu, ainda gritando.

Fahir mandou que o seguíssemos. Entramos na casa e fomos para os aposentos de Samirtra. Lá, ele levantou um dos tapetes e abriu um alçapão.

— Desçam e fiquem aí. — disse, entregando uma pistola à Jordan. — Não saiam por motivo algum!

Antes que eu descesse, ele me puxou pelo braço e beijou minha boca com paixão. Desci correndo e lá embaixo encontrei Samirtra, sua ajudante e Jordan.

— Sabia que viria, A'ishah. — ela me disse com um sorriso.

Mas nem eu nem Jordan estávamos sorrindo. De repente, parecia que nós dois tínhamos entendido o tamanho da encrenca em que tínhamos nos metido.

— Por que fez isso, Lind? — perguntou o rapaz, balançando a cabeça.

— Tive medo de que, se partisse, nunca mais pudesse voltar. E você, por que ficou? — perguntei.

— Tive medo de nunca mais ver você.

— Jordan, eu...

— Não precisa dizer nada, Lind. Sei que ama o Chris e que no má­ximo vou ser um amigo... mas isso não me impede de tentar evitar que você morra neste fim de mundo.

Não sabia o que dizer. E se soubesse, não teria tempo de fazê-lo. O ruído de pessoas correndo, tiros e gritos chegou até nós.

Jordan segurou a arma com firmeza e eu engoli em seco, imaginan­do por quanto tempo estaríamos protegidos naquele subterrâneo.


Capítulo VIII
Em um minuto, todo o jardim e a casa estavam cheios de homens vestidos de negro, correndo e duelando furiosos. Como eles se distinguiam entre si é um mistério, mas o fato é que, apesar de todos usarem roupas iguais, sabiam muito bem quem era quem.

Mubharak deu ordem a seus homens para que pilhassem tudo o que pudessem carregar, e que, ao sair, incendiassem o lugar, certo de que teria uma esmagadora vitória sobre Fahir. Quanto à relíquia, ele mesmo iria procurá-la. Se não encontrasse, torturaria Fahir até fazê-lo falar.

O número de invasores era bem superior aos que defendiam a fortaleza, mas isso não parecia fazer diferença. Os guerreiros de Fahir, se inferiores em número, eram superiores em coragem e bravura.

As espadas, parte de uma das mais famosas artes tamasheks, com seus cabos trabalhados e lâminas afiadíssimas, chocavam-se umas con­tra as outras, e adagas eram lançadas de todos os lados.

Por que não usavam armas de fogo eu não sei dizer. O peso da tra­dição, talvez, ou quem sabem aqueles homens achavam que não seria digno matar alguém assim. Apesar de carregarem consigo pistolas e outros armamentos, espadas e facas eram as únicas armas usadas.

Aos poucos, as plantas do jardim foram se tingindo de vermelho-sangue, e o interior da casa, antes harmoniosamente decorado, tornava-se, cada vez mais, um verdadeiro depósito de cacos e retalhos.

Fahir e Mubharak lutavam ferozmente, cada um de um lado, mas ambos sabiam que o confronto final seria entre eles. Quem vencesse controlaria o lugar e seria, por algum tempo, o líder daquele povo.

Habilidoso com a espada, meu príncipe enfrentava vários homens ao mesmo tempo, sendo admirado por sua bravura e habilidade até mesmo pelo inimigo.

Mubharak, por sua vez, nada devia a Fahir na arte da espada e ia deixando um rastro de sangue, conforme avançava cada vez mais para dentro da propriedade.

As salas de aula e demais dependências atrás da propriedade principal foram invadidas e destruídas, não apenas pela luta, mas pela crueldade vândala que o inimigo exigia de seus homens.

O pandemônio era total. Gritos, sons de metal se chocando, destruição, sangue.

Quando os aposentos de Samirtra, acima de nós, foram invadidos, ouvíamos a luta tão claramente que Jordan chegou a se jogar sobre a cega para protegê-la.

Temíamos ser descobertos e mortos ali mesmo.

Nenhum de nós ousava falar e até nossa respiração era baixa e sufocada. Os delicados móveis onde a mulher guardava seus preciosos frascos de essências e remédios caíam, um a um, e nós podíamos ouvir os vidros se espatifando no chão.

Tudo foi remexido, quebrado, destruído.

— Eles procuram no lugar errado. — sussurrou a mulher em meu ouvido. Olhei sem entender e ela, pegando minhas mãos, levou-as até sua cintura. Preso por dentro da roupa, senti um objeto sólido e de tamanho razoável.

— A relíquia? — perguntei, também sussurrando, e ela fez que sim com a cabeça.

— E os diamantes...?

Samirtra sorriu misteriosa.

— Há alguma saída deste lugar? — indagou Jordan. — Não vão demorar para nos descobrir aqui.

— Há um túnel escondido em algum lugar. Quando Fahir começou a construir sua fortaleza, ele encontrou ruínas de uma antiga cidade sob a areia. Este porão nos liga aos porões da antiga construção, mas eu não sei como chegar até lá.

— Árabes em guerra, passagens secretas, uma vidente cega e uma civilização perdida... Deus! Onde isso vai parar? — suspirou Jordan, examinando as paredes.

— Você é perita em restaurações. Venha me ajudar! — chamou ele, com voz quase inaudível.

"Mas eu só restauro quadros e documentos", pensei, desalentada.

Enquanto a luta continuava sobre nossas cabeças, eu, Jordan e a mocinha vasculhamos o lugar em busca de alguma passagem que nos permitisse sumir dali, mas nada encontramos.

— Não tenho balas suficientes para enfrentar tanta gente. — sussur­rou Jordan. — Temos que encontrar esse túnel.

Samirtra levantou-se e pediu silêncio. Não entendi bem por que, já que o barulho acima estava cada vez mais alto. Tateando pelas paredes, ela parou em determinado ponto. Foi seguindo por ele e, alguns passos adiante, abaixou-se e começou a tatear o chão.

— Aqui. — disse, indicando um dos cantos daquele lugar.

Olhamos ao redor sem fazer a menor idéia de como cavar ou perfu­rar ali. Quando já estávamos achando que nosso fim seria inevitável, o som sobre nossas cabeças diminuiu, até cessar totalmente.

Com os sentidos em alerta, esperamos alguns minutos para ter cer­teza que não havia mais ninguém lá em cima.

— Vou subir. — disse Jordan.

— Ficou louco? Se for visto, estaremos todos mortos! — respondi.

— Prefere morrer neste buraco? — ele me perguntou. — Temos que arriscar, Lind.

— Se você vai subir, eu também vou!

Ele me olhou, incrédulo:

— Nunca faz nada que te pedem?

— Eu guardei o guarda-chuva pra você, não guardei?

Ele sorriu.

— Fique aqui. Não demoro.

Eu ia subir, mas Samirtra me segurou pelo braço.

— Fique, A'ishah.

Contra minha vontade, sentei-me ao lado da mulher e esperei, en­quanto Jordan saía e fechava o alçapão.

O tempo parecia quase parado, como grãos de areia escorrendo len­tamente pela garganta de uma ampulheta. Não sei dizer quantos minu­tos se passaram até que ouvimos o som de um tiro e o ruído abafado de algo caindo pesadamente ao chão.

Jordan!


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