Paixões no Deserto



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***

— Que droga! A gente não queria voltar! — protestou Luke uma hora depois, quando entrou na embaixada onde sua mãe e os repórte­res os aguardavam.

— A gente quer ficar lá! Aqui é muito chato! — reclamou Bill.

O comissário sorriu. Com as crianças seguras e gozando de boa saúde, o plano de Mubharak começava a esvaziar-se antes mesmo de tomar forma.

Mas, como diz o ditado, as aparências enganam...

***


— Bom dia! — disse, com um sorriso, quando me juntei à Jordan e sua mãe para o café da manhã.

Nenhum deles me respondeu, ambos com o nariz enfiado nos jornais.

— Como isso chegou aqui tão depressa? — perguntei espantada.

— Não sei... mas estavam aqui quando acordamos. E os meninos já haviam partido. — respondeu Jordan, sem tirar os olhos das notícias.

Peguei um dos jornais e, quando li a respeito de nosso rapto, entendi as preocupações de Fahir na noite anterior sobre me deixar livre para decidir. O mundo dele era perigoso... muito perigoso. E pela for­ma como o artigo tinha sido escrito, Fahir parecia um terrível bandido, e nós, suas pobres vítimas.

— Isso é absurdo! — protestei.

— Sabemos que é, querida. Por isso os meninos partiram. Nós fica­mos porque não seria seguro atravessar o deserto todos juntos.

— O que está acontecendo? — perguntei.

— Não sabemos direito, mas parece que um tal de Nu'man quer acabar com Fahir. Ele não aceita que nosso amigo seja líder dos tamasheks e nem concorda que a união de seu povo seja feita por vias di­plomáticas.

— Eu sei... Fahir comentou sobre isso ontem à noite. — eu falei e me arrependi logo em seguida.

— Comentou, é? — perguntou a Sra. Burton, olhando-me com olhos interessados.

— Então o Príncipe do Deserto arrumou mais uma odalisca para seu harém! — comentou Jordan com maldade.

— Parem com isso, os dois! Eu não sou odalisca e Fahir não tem harém. Nós apenas conversamos.

— Hã-hã... — completou Jordan, com mais maldade ainda. Havia uma ponta de ciúmes ali?

— E agora? Quero dizer, os meninos voltaram, mas o que vai acontecer?

— E quem é que sabe? Aqui é o Saara, minha filha. Tudo muda em questão de segundos! — exclamou Jordan, sério.

— Fahir saiu? — perguntei, procurando parecer indiferente.

— Sim... logo de madrugada, levando os garotos. De qualquer maneira, as coisas não estão nada bem. — comentou Jordan.

— Como ele soube? De madrugada os jornais ainda não estavam disponíveis...

— Informantes, simpatizantes, traidores... sei lá. Alguém passou a no­tícia e ele agiu, antes que os jornais nos transformassem em prisioneiros.

— Mas nós podemos dizer que estamos aqui por vontade própria!

— O problema, Lind, é que ninguém conhece este lugar. Quer dizer, ninguém, a não ser o governo da Tunísia, sabe onde estamos. Chris passou muito tempo construindo esta base secreta.

— Não entendo...

— É simples: Fahir acha que a única maneira de seu povo reivindicar um espaço próprio é através da diplomacia. Para que isso aconteça, o povo tem que estar preparado. O que Fahir faz aqui é justamente prepará-los.

Fiquei em silêncio, pensando em quantas preocupações e dilemas Fahir enfrentava apenas por querer o melhor para seu povo. Depois pensei nas sensações que ele despertava em mim.

Por um segundo, senti sua boca na minha outra vez, e isso foi o bastante para meu corpo se incendiar.

Aquele homem era tudo o que eu sempre sonhei, mas ele também representava perigo, incerteza, uma aventura que poderia acabar mal.

Entre dois mundos... Era assim que eu estava e ninguém poderia decidir por mim em qual deles eu iria ficar.



***

— Devo dizer que sua visita muito me surpreende, general. — comentou Nu'man Mubharak com sorriso de serpente, enquanto caminhava tranqüilamente pelos jardins de sua casa.

— Não concordo com a forma que meu governo vem tratando este assunto. E também não concordo que um homem, que nem tunisiano é, goze de tanta proteção e regalias, como é o caso de Fahir.

— Muito bem... Mas ainda não entendi o que espera de mim. — os olhos de Mubharak estavam brilhando.

— Muito simples. Sei que você quer destruí-lo, algo que eu também desejo, e sei que seus métodos são eficientes. Por outro lado, você man­dou seus homens vasculharem o tal acampamento atrás dos diamantes, trazidos por Jordan Burton, que foram roubados de seu povo.

— Está muito bem informado...

— Faz parte de minha posição. Pois bem, o que lhe proponho é o seguinte: eu lhe forneço a localização exata de Fahir e você terá a oportunidade de pegar o que é seu. Como fará isso, não me diz respeito.

— E em troca... ?

— Em troca, denunciaremos que o governo de meu país enco­bria atividades guerrilheiras e terroristas, e que, portanto, não pode continuar no poder.

— Com isso, o senhor assume o comando da nação. Um bom pla­no. Mas o que me garante que, após conseguir o que deseja, não irá se voltar contra mim?

— Corri um grande risco vindo procurá-lo. O seu risco será confiar em minha palavra. — respondeu o homem com simplicidade. — Esta conversa entre nós nunca existiu, Mubharak.

— E quando saberei a localização de Fahir?

— Amanhã pela manhã, mas creio que uma ação noturna seria mais indicada. — comentou o outro, estrategicamente.

Mas Mubharak não prestava mais atenção. Seus pensamentos esta­vam na taça sagrada e nas pedras. O general que ficasse com o país. Ele ficaria com o mundo!

A relíquia... Quantas noites havia passado em claro pensando nela e imaginando os poderes ilimitados que seriam seus! E o melhor de tudo é que Fahir havia feito todo o trabalho para recuperar as gemas! A sorte estava lhe sorrindo outra vez.

— Estamos acertados, então? — perguntou o general, com um sorriso.

Mubharak assentiu.

— Entre meu povo, os traidores são caçados e esmagados como insetos. Sejam quem forem, estejam onde estiverem. — a expressão em seu rosto era feroz.

O outro olhou-o com firmeza. Havia entendido o recado, mas não se importava com as ameaças daquele homem. Despediu-se e saiu.

Mubharak sentou-se, pensativo. O que tinha a perder? Tudo havia sido filmado. Ele possuía um belo trunfo nas mãos, a cabeça de seu inimigo lhe foi oferecida numa bandeja e, junto com ela, o objeto mais poderoso do planeta. Que lhe daria mais poder do que todos os exér­citos juntos.

Realmente, a sorte estava a seu lado.

***

— Leve isto a Fahir com urgência! — disse o velho sujo, enrolado num manto velho e rasgado. — Há alguém esperando por você.

O rapaz pegou o embrulho de papel encardido e partiu, sumindo entre as vielas da Mediria. Sabia que tinha de ser veloz. O homem em pessoa veio fazer a entrega.

Alguns metros adiante, outro garoto surgiu. Pegando o pacote das mãos do primeiro, deixou com ele um outro idêntico. Partiram corren­do em direções opostas. Esta cena se repetiu tantas vezes que, após al­guns minutos, seria impossível saber onde estava o embrulho original. Durante horas aquela encomenda viajaria pelo país, até encontrar seu destino.

O velho arrastou-se entre as pessoas, procurando passar desapercebido. Tão logo fosse possível, ele se livraria daquelas roupas e da peruca branca. Rezava apenas para que o rapaz chegasse a tempo e que Fahir recebesse a informação antes que fosse tarde demais.

***

Como no dia anterior, passei a maior parte do tempo em companhia de Samirtra, a quem as notícias dos jornais não pareciam perturbar.

— A vida, A'ishah, segue seu curso apesar das tempestades.

— Mas Fahir corre perigo! — protestei.

— Fahir sabe lidar com o perigo. A pergunta é: você sabe lidar com Fahir? Não é uma vida fácil a que o destino reservou para ele.

Eu não sabia o que responder. Fiquei em silêncio, deixando as fragrâncias de almíscar, jasmim e sândalo, que pairavam no ar, invadirem meus sentidos.

— Estive com Fahir ontem à noite. — confessei.

Samirtra sorriu.

— Ele é um homem muito envolvente... mas ainda não sei se sou a mulher certa para ficar a seu lado. Tudo aqui é tão diferente do que conheço...

— O amor nasceu em seu coração, A'ishah?

Não sabia responder isso também. Desde a primeira vez que vi Fahir na Medina, ele me fascinou. O homem era um conjunto de qualidades e promessas... Mas, amar? Será que eu o amava?

— Não sei dizer se o que sinto é amor...

— Você tem medo de se entregar. Todo o seu povo tem. Vivem presos a idéias de dominação e independência, esquecendo que, para amar, basta... amar! — disse ela, com sabedoria.

Passei o resto do dia pensando nessas palavras: para amar, basta amar. Tão simples e, ao mesmo tempo, tão complicado...



***

A noite chegou e mais uma vez jantamos sem a companhia de Fahir. Tudo estava silencioso e eu senti falta dos meninos. Pelo menos, eles eram divertidos e tagarelas. Jordan parecia preocupado e sem a mí­nima vontade de conversar. A Sra. Burton também estava mais calada que o habitual.

— Fahir me falou sobre os diamantes. — eu comentei para provocá-los. — E sobre os guarda-chuvas.

— Ah! — respondeu Jordan, distraído.

— Não sabia que você era ladrão de jóias. — insisti, com ironia na voz.

— Mas não sou, O que eu faço é caridade. Alivio as pessoas do peso extra que elas carregam. No caso de Fahir, fiz um favor para um amigo, só isso.

— E envolveu sua mãe? Não teve medo? Não tem vergonha?

— Ele não me envolveu, querida. — disse a mulher. — Eu participei porque quis. Achei que se viajássemos juntos ninguém suspeitaria que estávamos com as pedras. Fahir é um bom rapaz e sua causa é nobre. Eu faria tudo novamente, se fosse preciso.

— Mas por que esses diamantes são tão importantes? Por que Fahir simplesmente não comprou outros e substituiu os que foram rouba­dos? — perguntei.

— Nós sabemos muito pouco. Parece que há algo especial na lapidação das pedras, que quando estão juntas podem revelar algum segredo importante...

— E não daria pra simplesmente imitar a lapidação? — insisti.

— Eu duvido. — Jordan falou. — Pelo que Fahir me disse, os diamantes não foram cortados por nenhum instrumento humano. E eles são esquisitos, mesmo. Até hoje, nunca vi nada parecido.

— Fahir nos explicou que as gemas se encaixam perfeitamente nas cavidades de uma espécie de taça em forma de cone. As tradições do seu povo dizem que essa taça foi esculpida na primeira rocha do mundo.

— Isso é sério? — perguntei, olhando para Jordan.

— E como vou saber? Aqui é o Saara... tudo é possível!

— Pelo menos alguém faz idéia de que segredo é esse? — tentei ir mais fundo.

— Bom, aparentemente, o guardião do cálice sabe como ele deve ser usado para que seus mistérios sejam revelados...

— E quem é o guardião? — perguntei, mordendo uma tâmara.

— Eu. — respondeu Fahir, que tinha acabado de chegar.

Olhei para ele e na mesma hora um sorriso surgiu nos meus lábios. Deus, como ele era lindo, imponente... e como seus olhos eram mágicos!

— Até que enfim! — exclamou Jordan, levantando-se. — Estávamos morrendo de preocupação.

— Meu querido, você está bem? — perguntou a Sra. Burton, abraçando Fahir.

— Desculpem, mas tive muito trabalho para chegar aqui sem ser visto. — respondeu ele, sentando-se conosco. Eu continuava olhando, fascinada pelo seu magnetismo.

— Como passou o dia, Srta. Hill?

Meu corpo inteiro começou a formigar. "Lembrando seus beijos", pensei, mas respondi outra coisa:

— Com Samirtra, aprendendo sobre o ritual de lavar os pés e outras coisas...

Fahir sorriu.

— Não precisa fazer isso, se não quiser... É apenas um costume, não uma obrigação.

— Eu sei... Mas achei bonito o gesto e seu significado.

— E qual é o significado? — perguntou Jordan, azedo, e novamente achei que ele estava enciumado.

— Bom... basicamente, é um gesto simbólico de humildade, carinho e cuidado. Quando você lava os pés cansados pelas caminhadas no deserto, significa que está proporcionando conforto, não só ao corpo, mas à alma da pessoa. Entendeu?

Fahir sorriu:

— Vejo que aprende rápido, Srta. Hill.

Estranhei que ele me chamasse assim. Será que A'ishah era só em nossos momentos a sós?

— Como estão os meninos? — perguntou a Sra. Burton, interessada.

— Ficaram bem... mas foi difícil convencê-los a voltar. Imagino que a esta hora já tenham sido entrevistados e toda essa confusão acabe se dissolvendo. — disse Fahir, servindo-se de um bom pedaço de pão.

— E quanto a nós? — perguntou Jordan. — Quando podemos ir embora?

Fahir olhou o amigo com surpresa:

— Depois de amanhã. Samirtra me pediu que ficassem por três dias. Algo relacionado com as estrelas...

— Ela é cega, Chris! Como pode ver o que há nas estrelas? — fuzilou Jordan, mal-humorado.

— Que bicho te mordeu? — indaguei, estranhando o comporta­mento do rapaz. — Está irritado com alguma coisa?

Ele não respondeu. Apenas se levantou e foi para o jardim.

— Isso passa. — cochichou a Sra. Burton. — Ele está com ciúmes, só isso.

Fahir encarou a mulher e eu fiz o mesmo.

— Ciúmes de quem? — perguntei.

— De vocês dois, é claro. É evidente que estão apaixonados e Jor­dan... Bem, Jordan achou que talvez você pudesse se interessar por ele...

— Seu filho disse isso? — perguntou Fahir.

— Não, querido, mas eu o conheço muito bem.

— Nós não estamos... quero dizer... não há... nunca estivemos... — balbuciei.

A mulher riu alto:

— Claro que estão. Basta ver como se olham! Os olhos de Fahir parecem que vão saltar toda vez que a vêem... e com você acontece a mesma coisa.

Senti o rosto corar e abaixei a cabeça. De repente, o bordado da toalha me pareceu muito interessante...

Fahir, sem perder a pose, respondeu:

— A idade realmente traz sabedoria! — e deu um beijo no rosto da mulher, que, toda encabulada, levantou-se e foi atrás do filho.

Continuei observando o bordado: uma voltinha vermelha para lá, uma voltinha azul para cá...

— Vocês falavam dos diamantes quando cheguei... — disse o ho­mem, fazendo de conta que não percebia meu embaraço.

— Eu não entendi muito bem sobre o tal segredo... — respondi, ainda sem levantar a cabeça.

— Há um cálice de pedra que, segundo dizem, foi entregue aos primeiros tamasheks diretamente pelo Criador. Os diamantes se encaixam nele em posições determinadas. Esse cálice vem passando de geração a geração por milênios.

— Pensei que isso fosse segredo...

Fahir sorriu:

— Há um segredo, sim, mas a história que lhe contei é do conheci­mento de qualquer tamashek. O que pouquíssimos sabem é que apenas o guardião sabe como extrair o conhecimento nele contido.

— E o guardião, no caso, é você.

— Sim.

— Mas nunca ninguém quis saber que conhecimento é esse?!



— Ninguém se atreveria a fazer isso antes que a permissão fosse dada, A'ishah.

— Dada por quem?

— Não sei, mas, com certeza, quando a hora chegar, a pessoa que estiver com a relíquia saberá.

— Por que me chamou de senhorita Hill na frente de Jordan? — perguntei, mudando de assunto.

— Não sabia se você ia gostar de ser chamada de outra forma. — Fahir tocou meus dedos, que ainda seguiam o bordado, com a ponta dos seus.

— Gostaria de passear comigo, esta noite, pelo deserto? — ele per­guntou com sua voz irresistível.

Cavalgar à noite pelo Saara, sob as estrelas e o luar, tendo como companhia o Senhor das Dunas? Não, Fahir. Eu não gostaria... Eu simplesmente adoraria!

— Não é perigoso? — perguntei, meu coração aos pulos.

Aqui por perto, não. Nossos inimigos estão mais a oeste.

Olhei para ele, diluída em seu olhar. Eu iria com Fahir para onde ele quisesse.

— Se você acha seguro, eu vou adorar!

Fahir levantou-se e me deu um beijo no alto da cabeça.

— Mais tarde... eu a encontro no jardim. — dizendo isso, ele se retirou.

Continuei sentada, o corpo aceso de paixão, os pensamentos vo­ando por minha cabeça. Jordan e a Sra. Burton voltaram, desejaram boa noite e se recolheram. Eu continuei ali... pensando na noite que me aguardava.

Vestindo roupas quentes e levando comigo uma grossa manta de lã, encontrei Fahir no jardim meia hora depois, já pronto e à minha espera.

Tudo era mágico. Minha sensação era que, de um momento para o outro, eu tinha mergulhado numa história das Mil e Uma Noites. Dois ca­valos negros aguardavam por nós e Fahir, depois de me ajudar a montar, começou a cavalgar calmamente a meu lado.

Saímos pelos grandes portões, onde as sentinelas pareceram não se importar com nossa presença, e alcançamos o deserto. A noite estava fria e o vento era gelado, mas nada disso me importava.

Depois de minutos em silêncio, Fahir perguntou:

— Como se sente diante de duas imensidões misteriosas: o céu e o deserto?

— Emocionada... como se eu tivesse vivido esperando este momento.

Ele aproximou seu cavalo do meu e me tocou o rosto:

— Você é mais linda do que tudo ao nosso redor.

Sem saber o que dizer, ofereci minha boca a ele e senti seus lábios tocarem os meus delicadamente.

— Venha, quero que veja algo. — Fahir disse, e saiu galopando à minha frente, suas vestes esvoaçando em meio ao vento. Segui atrás, esporando meu corcel, imaginando que surpresas aquele príncipe do deserto tinha me reservado.

Durante quase dez minutos, nada além das estrelas nos fez companhia. Eu confesso que estava maravilhada. O deserto era o próprio mistério da existência, o guardião da eternidade da vida em constante mudança.

Ao longe, vi surgir, fracamente iluminado pelo luar, o contorno de algo que me pareceu um oásis. Lá chegando, desmontei, ao lado de meu companheiro:

— Fique aqui. O deserto é traiçoeiro. Nunca sabemos quando uma cascavel ou algo do tipo pode atacar. — Fahir retirou o pacote que car­regava preso à sela e sumiu na escuridão.

Esperei alguns segundos, até ver a luz do fogo iluminar seu vulto. Ele havia acendido uma fogueira pequena, mas suficiente para nos manter seguros e aquecidos.

— Venha. — disse o príncipe, segurando minha mão.

Uma pequena tenda, feita com lonas grossas, parecia estar ali aguardando nossa presença.

— Este é o lugar para onde venho quando preciso tomar decisões importantes, ou quando quero ficar sozinho com o deserto. Esta soli­dão refaz minha alma.

Eu entendi perfeitamente o que ele estava dizendo.

— Não existe luxo aqui, mas há mantas quentes e algum conforto na barraca. Alguém sempre vem manter o lugar limpo e arrumado.

Parei ao lado da fogueira para me aquecer. Enquanto as chamas dançavam, lançando sombras e luzes à nossa volta, senti os braços for­tes de Fahir me enlaçarem. Repousei a cabeça em seu peito, e juro que, se morresse naquele segundo, eu já estaria no Paraíso.

Não me sentia mais no mundo dos homens. Eu estava em outro lu­gar, numa terra distante e maravilhosa, onde os sonhos eram reais e nada nem ninguém poderia impedi-los de acontecer.

Olhei o reflexo das labaredas nos olhos de Fahir e me aninhei em seus braços.

— Queria que visse este lugar antes de partir. — e eu senti um tom de tristeza em sua voz.

— Se eu não quiser partir, você me deixa ficar aqui com você? — perguntei.

— É uma decisão séria, A'ishah. Mas, se tiver certeza do que diz, nada me faria mais feliz.

Nós nos beijamos, e ali, ao lado da fogueira que ardia num pequeno oásis perdido no deserto, entreguei meu coração a ele, antes mesmo de entregar meu corpo.


Capítulo VII
— Um antigo costume diz que, quando um homem ama uma mulher, ele deve declarar seu amor de tal forma que nada neste mundo possa fazê-la duvidar de suas palavras. — comentou Fahir, virando-me para olhar dentro dos meus olhos.

Fiquei em silêncio, com o coração aos pulos.

— Isso é para que não duvide jamais do que sinto por você, A'ishah. — Assim que disse isso, Fahir colocou minhas mãos em forma de con­cha e derramou sobre elas vários brilhantes.

Os diamantes! Ele estava me dando os diamantes?! Olhei espantada e ele continuou:

— O que tem nas mãos vale a liderança de meu povo. Se entrego estas gemas a você é porque já lhe entreguei meu coração. Eu a amo, Lindsay Hill, minha A'ishah, a mulher que o destino me reservou.

Senti os olhos marejarem e Fahir beijou as lágrimas que escorreram por meu rosto. Retribuí seu beijo com paixão.

— Sei que é um segredo, mas eu queria tanto saber mais sobre o cálice e estas pedras... — Eu olhava as chamas da fogueira refletidas nos diamantes, que lançavam luzes em minhas mãos.

— Na verdade, não é um único segredo, mas quatro. Quando meu povo começou a percorrer o mundo, o Criador entregou-lhes a taça feita com a pedra original e estes diamantes. O primeiro mistério é sa­ber em qual orifício do cone cada um deles deve ser colocado. Há uma seqüência exata.

— E se a pessoa errar?

— O objeto tem um mecanismo de autoproteção para defender os conhecimentos que contém. Por isso, apenas o guardião conhece a po­sição correta das pedras. Se forem colocadas em ordem errada, o cálice torna-se mortal.

Olhei para ele, percebendo a confiança que estava depositando em mim ao me contar tudo aquilo.

— O segundo segredo — continuou Fahir. — trata do local onde o cone deve ser exposto ao sol.

— Exposto... ao sol?

— Sim. Há um determinado lugar no planeta em que, se o cálice for colocado desde o nascer até o pôr-do-sol, ele revelará grandes conhecimentos.

Enquanto falava, o rosto de Fahir ia assumindo uma aura quase mística, como se o profeta dentro dele estivesse tomando o lugar do grande líder.

— O terceiro segredo — ele prosseguiu. — diz respeito a quem irá manipular o cálice. As intenções da pessoa que receberá sua sabedoria devem ser puras, ou ela encontrará morte certa.

— E o último segredo? — perguntei.

— Eu não conheço. Só quando chegar o momento certo ele será revelado.

Olhei para meu amado com admiração e reverência.

— As gemas são suas, Fahir — falei, colocando as pedras em suas mãos. —, mas aceito seu coração, se também aceitar o meu.

Samirtra havia me ensinado o que dizer em ocasiões como aquela, as não consegui me lembrar de uma só palavra e improvisei tudo:

— Passei a vida inteira sonhando com este momento. Sonhei com você, com o deserto, com as estrelas... mas nunca em estar aqui, ao seu lado, ouvindo coisas tão fascinantes. E sentindo tanto amor.

Fahir me beijou muitas vezes, cada uma delas com mais paixão, mais desejo, mais intensidade. Senti sua respiração mudar, assim como a minha, e o calor de seu corpo me envolver. Sem dizer uma palavra, ele me pegou no colo e levou para dentro da tenda, que tão generosamente nos esperava.

Por mais que eu queira descrever o que aconteceu, não tenho palavras que façam justiça ao sentimento de amar o homem de nossa vida em meio às areias do Saara.

Fahir me colocou sobre as almofadas que serviam de cama e deitou-se a meu lado. Ele não era um mestre apenas em controlar o deserto. Era um mestre em controlar a paixão e fazer com que os carinhos durassem horas.

Lentamente, começou a beijar meu pescoço e minhas orelhas, segurando-me pela cintura. Sua língua riscava minha pele como fogo e eu me entregava a ela, sentindo cada milímetro do corpo vibrar de desejo, de amor, de paixão.

Com extremo carinho, ele tirou minhas blusas - eu usava várias por causa do frio - e, a cada peça que jogava para o lado, voltava a me beijar e acariciar. Quando finalmente meus seios apareceram, senti que seu desejo aumentou mais ainda.

Ombros, braços, mãos e dedos foram acariciados, enquanto eu buscava sua pele. Minhas mãos tocaram suas costas musculosas, e mal pude acreditar na força e masculinidade que havia ali. Fahir parecia ter sido esculpido em rocha viva.

Ele se livrou das roupas, do turbante e do véu. Nu da cintura para cima, abraçou-me com força e, no exato momento em que nossas peles se tocaram, eu soube que nunca mais poderia deixar aquele homem.

Com delicadeza e extrema sensualidade, acariciou meus seios e, quando eu achava que não agüentaria mais, ele começou a sugá-los, alternando carinhos ardentes com outros quase imperceptíveis, que me levavam à loucura.

Assim que o resto das roupas sumiu de nossos corpos, Fahir acari­ciou cada centímetro de minha pele com suas mãos fortes e calejadas por anos de montaria. Eu me arrepiei inteira.

Percorri seu corpo com as mãos, com a boca, com a língua, sentindo seu contorno perfeito.

Ele não era um príncipe, era um deus. Perfeito, sensual e totalmen­te entregue aos meus carinhos. Fahir passou a acariciar minhas coxas, enquanto lambia meus seios, fazendo-me gritar de prazer.

Quanto tempo ficamos assim, um explorando e conhecendo os segredos do outro, não sei dizer. Mas a cada toque nosso amor crescia e o desejo se tornava mais urgente.

Totalmente molhada de desejo, querendo sentir aquele homem dentro de mim, guiei suas mãos para a parte mais íntima de meu corpo e me contorci com a magia de suas habilidades. Da mesma forma, ao sentir a rigidez de seu desejo em minhas mãos, vi Fahir ofegar alto, para em seguida me beijar com força e ardor.

Ele colocou-se atrás de mim, encaixando meu corpo no dele. Abri as pernas para recebê-lo, enquanto sentia seus dedos tocando meus mamilos rijos de desejo.

Lentamente Fahir foi se aproximando de meus pêlos molhados e, mais lentamente ainda, penetrou-me inteira. Eu gemia mais e mais, conforme sentia sua virilidade cada vez mais forte, cada vez mais fun­do dentro de mim. A dança do desejo começou e eu só queria que ela durasse para sempre.

Lenta e suave a princípio, rápida e enlouquecida no final, nossos gritos de prazer ecoavam pelas dunas silenciosas, ambos dividindo o mesmo ardor, o mesmo momento, e principalmente, o mesmo amor.

Mas ele não se separou de mim. Ainda unidos em corpo e alma, Fahir começou a reacender as brasas do meu desejo, até que elas se transformaram em chamas outra vez, e juntos partimos em nova dança, ainda mais alucinada, e novamente explodimos em prazer. Sentindo meu cor­po inteiro vibrar, enlaçada àquele homem tão forte e tão bravo, que se entregava a mim tão completamente, gritei o mais alto que pude:

— EU TE AMO!

Ele me apertou mais em seu corpo, enquanto ainda dividíamos os últimos vestígios de prazer da nossa primeira noite. A primeira e mágica noite, que eu tanto esperei e que se repetiria por muitos e muitos anos.

Suas mãos deslizavam por minhas costas, enquanto nossos corpos se acalmavam. Beijei seu peito forte, e outra vez as lágrimas desceram pelo meu rosto. Fahir tinha o dom de me emocionar. E devo confessar, com toda sinceridade, que ainda tem. Ele é assim: força, mágica, poesia. Um sonho, um herói, um príncipe.

O Príncipe do Deserto.

— Você é maravilhosa, A'ishah. A'ishah, minha mulher.

Ele me abraçou com carinho e acariciou meu rosto.

— Passei a vida duvidando que algo assim seria possível. No entan­to, Samirtra estava certa o tempo todo: tudo que eu precisava fazer era seguir meu coração...

"Para amar, basta amar", disse ela, e agora aquelas palavras faziam todo o sentido do mundo.

Fahir me apertou em seus braços e me fez sentir que a noite era nossa, que o deserto era nosso, que um novo mundo acabava de ser criado apenas para nós.

O beijo dele, quente, molhado e cheio de paixão, despertou em mim uma vontade insaciável de senti-lo outra vez. E assim, até o nascer do sol, que tingiu as dunas de vermelho e dourado, um se entregou ao outro numa incalculável intensidade de paixão.


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