Paixões no Deserto



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***

— E então? — perguntou o homem sem se virar para a porta. Con­tinuava olhando os pombos que tranqüilamente comiam as migalhas de pão jogadas pelas crianças e turistas na praça em frente ao elegante edifício onde ficava seu escritório.

Desde criança ele gostava destas cenas plácidas e tranqüilas... Faziam o mundo parecer melhor.

A demora na resposta deu-lhe a certeza que algo tinha saído errado.

— Acabaram de telefonar. O senhor sabe... há vários turistas no hotel e...

— Sempre há turistas nos hotéis! — o comentário veio ríspido.

O quarto foi revistado, mas nada encontraram.

— E isso é culpa dos turistas?

— Não senhor... Apenas não havia nada lá.

— Não havia?! — o homem soltou um suspiro. Incompetentes. Não fosse o perigo de ser reconhecido e arriscar a posição segura que ocu­pava, ele mesmo teria ido até o local.

— E Fahir?

— Não sabemos, senhor. Ele não apareceu.

— Fahir é como o falcão do deserto... voa em silêncio. Acha que ele iria se mostrar?

O outro não respondeu.

— E o inglês?

— Levou uma pancada na cabeça, mas está bem.

Ainda observando a praça em frente, o homem suspirou, irritado.

— Vou falar apenas uma vez: você tem uma chance para resolver esse assunto. Se não o fizer, sabe muito bem quais serão as conseqüên­cias. Você viu os planos da agência?

— Sim... Eles farão uma excursão pelo país e deverão chegar ao deserto em dez dias.

— Então só temos esse tempo. Se chegarem ao deserto, não conse­guiremos pegá-los mais. As areias são território de Fahir. Agora vá. E me informe de tudo que acontecer.

— Sim, senhor. — respondeu o interlocutor e saiu discretamente. O homem virou-se, dando as costas para a janela. Maldito Fahir!

Agia como um fantasma, o fantasma do deserto. Bastardo! Mestiço! Quem ele pensava que era para fazer o que estava fazendo? Os tamasheks sempre se orgulharam de seu sangue puro. Era isso o que deter­minava quem era quem dentro da hierarquia. Até aparecer o mestiço... Ele não ia admitir que ninguém, por mais rico e poderoso que fosse, se infiltrasse entre seu povo e manchasse o nome de seus ancestrais!

Continuaria o trabalho de seu pai... e sairia vitorioso.

Então seu pensamento se concentrou em outra coisa: a relíquia. Di­zia a lenda que ela era poderosa e que possuía o segredo do mundo em seu interior. Quem a possuísse, teria conhecimento infinito e poder sobre todas as coisas.

E quem melhor do que ele para ser o guardião de tal poder? Ele e não aquele mestiço, filho de uma qualquer!

Ele recuperaria a relíquia e governaria absoluto sobre todos os povos.

Quanto a Fahir, que apodrecesse no deserto!
Capítulo II
— Oh, Jordan! Jordan, meu querido! Santo Deus! — gritava a Sra. Burton em tal altura que o hospital inteiro podia ouvi-la.

— Calma, mamãe, eu estou bem. — respondia o rapaz, ostentando um curativo na cabeça. — Não foi nada. Só escorreguei e bati a cabeça.

— Jesus santíssimo! E nós tão longe da civilização!

— Pare com isso, mamãe! Por favor! — protestou Jordan, torcendo para que ninguém ali entendesse sua língua.

Encostada perto da porta da enfermaria, eu observava a cena certa de que Jordan não tinha batido a cabeça coisa nenhuma. Ele havia leva­do uma pancada. Quando entrei em seu quarto para chamar a seguran­ça vi que estava tudo remexido. Aquilo foi um assalto, isso sim.

Só não entendia por que o rapaz não tinha dado queixa ou alertado o hotel. Alguma coisa ali não estava certa.

— Graças à senhorita Hill, que me ajudou, agora está tudo bem.

Eu sorri.

— Minha querida, nem sei como agradecer por ter salvado a vida do meu menino! Foi a providência divina que a colocou no mesmo cor­redor que nós!

Eu sorri de novo. Salvar a vida? O homem só tinha um arranhão na cabeça! E um galo, evidentemente. Nada que resultasse em mais do que dois dias com dor de cabeça. Quanto exagero.

— Mãe... e o seu guarda-chuva? Onde está?

— Sossegue... Aqui comigo. E o seu também! — respondeu a senho­ra mostrando os dois objetos para o filho.

Observei o alívio na expressão dele e fiquei intrigada. O que havia de tão especial naqueles guarda-chuvas? Pareciam normais... cabos re­dondos, feitos de madeira clara. O dela era azul e o dele, preto. Será que a Sra. Burton e seu filho tinham alguma neurose que os obrigava a carregar aquelas coisas?

— Vamos embora daqui. — disse o rapaz, sentando-se na maça. — Venha, senhorita Hill. Quero lhe pagar um café pelo trabalho que dei.

Ele me deu uma piscada com ar malandro que em nada combinava com sua aparência de "filhinho de mamãe".

Aliás, sem os óculos e com os cabelos desarrumados, Jordan Burton era até bonito. Nada que se comparasse ao meu, príncipe do deserto, o homem que habitava minhas fantasias, mas, ainda assim, bonito.

Sentados em um agradável restaurante, de onde recebíamos os sorri­sos amigáveis das pessoas que ali passavam, eu saboreava tranqüilamen­te meu café perfumado com essências, enquanto ouvia as reclamações da Sra. Burton sobre o tratamento que o hospital dera ao seu filhinho.

O rapaz, por sua vez, parecia não prestar atenção a nada do que a mãe dizia e sondava o ambiente com o que me pareceu ser um olhar de espião.

— Então, senhorita Hill, o que faz em Londres? — perguntou ele de repente, interrompendo a enxurrada de reclamações da mãe.

— Trabalho com restaurações no Museu Britânico.

— Que interessante! — ele respondeu, parecendo realmente interessado. — Fale mais um pouco. Acho esse tema fascinante.

— Não há muito pra dizer. Na verdade, eu trabalho nos porões do museu, entre telas danificadas e documentos desbotados.

— E por que escolheu a África pra passear? Quer render suas homenagens ao colonialismo britânico?

Havia uma ponta de sarcasmo na voz dele ou teria sido impressão?

— Vim conhecer o deserto. Minha viagem começa pela Tunísia, mas pretendo ir até o Egito. E não acho graça nenhuma no colonialismo, se me permite dizer. Além do mais, a Tunísia era colônia da França, não da Inglaterra. — respondi contrariada.

— Vai até o Egito pelo deserto? — espantou-se a Sra. Burton.

Eu ri. Bem que gostaria, mas era impossível. Ah se eu soubesse o que me esperava...

Voltamos ao hotel e encontramos o guia da agência de turismo reu­nido com as outras pessoas que, como nós, participariam das excursões.

— Sairemos amanhã pela manhã, portanto, façam o desjejum bem cedo. Temos que cumprir os horários, está bem?

Nosso passeio começaria por Túnis e depois seguiríamos para o sul do país, visitando cidades antigas, mesquitas, museus e alguns monu­mentos e ruínas, até finalmente chegarmos ao deserto.

O plano era nos juntarmos a uma caravana e passar uma noite entre o que a agência chamava de "verdadeiros habitantes das areias milenares".

Mal conseguia controlar minha ansiedade. Algo me dizia que no momento em que pousasse meus olhos nas dunas, algum poder especial tomaria conta de mim e eu seria transportada para o mundo dos meus sonhos. Quanta bobagem! Se eu soubesse o que realmente me aguardava, não sei se teria coragem de seguir em frente...

Notei, quando ia à recepção pegar minhas chaves, um homem alto e magro, vestido de negro, o rosto coberto por um véu que deixava apenas seus olhos escuros à mostra, aproximar-se discretamente de Jordan e, com gestos discretos, riscar com o dedo alguma coisa na mão do rapaz.

Como havia ainda vários turistas circulando pelo lobby, acho que o gesto passou despercebido a todos. Menos para a Sra. Burton, que sorriu ligeiramente e cumprimentou a misteriosa figura.

Encantada de ver pela primeira vez o traje tuaregue, ou tamashek, acompanhei com interesse a cena que se desenrolava discretamente num canto do grande salão.

Jordan olhou o desconhecido e fez um sinal imperceptível com a cabeça. O outro se retirou em silêncio e, naquele momento, tive certeza de que havia algo muito estranho envolvendo Jordan e a mãe. Incrível: meu primeiro dia na Tunísia e eu já havia encontrado um mistério.



***

— Está tudo certo, Fahir. —disse Maghrabi com voz baixa e reverente.

— Excelente! Jordan sabe como agir. Ele está bem?

— Sim. Não sofreu ferimentos graves, apenas uma pancada leve.

— O que significa que não queriam matá-lo, mas nos mandar um recado. Gente de Mubharak, com certeza.

O homem não respondeu. Apenas observava Fahir mover-se de um lado para o outro do aposento, com gestos felinos.

Como se orgulhava daquele rapaz! Ele havia se tornado um grande homem, um grande chefe, com um coração justo e uma alma forte. Em seus primeiros anos no deserto, Maghrabi teve muito trabalho para domar o gênio contestador e as idéias ocidentais do rapaz, mas por fim a sabedoria ancestral de seu sangue falou mais alto e ele entregou-se por inteiro aos conhecimentos que lhe eram ensinados.

Para surpresa de todos, dele inclusive, Fahir mostrou-se um hábil espadachim e um exímio atirador de facas. Deu-se bem com o arco e com os dardos. Tinha um dom natural para montaria, embora se saísse melhor com cavalos do que com camelos. Havia se tornado um mestre ao apurar os sentidos para ouvir o silêncio e sentir as vibrações do ar.

E ainda tinha gente, como Mubharak, que duvidava que Fahir fosse mesmo o líder natural de seu povo.

— Muito bem, Maghrabi.

— Samirtra, a Cega, me disse que a hora de encontrar seu destino está próxima. — comentou o homem com um tom de voz ainda respei­toso, mas mais amigável.

— Ela disse, é? — perguntou o rapaz, contrariado.

Aquele assunto devia permanecer em segredo. Não que houvesse algo que Maghrabi fosse proibido de saber. O homem era seu anjo da guarda, seu profes­sor e amigo. Mas aquele assunto aborrecia Fahir e ouvir o companheiro falar a respeito incomodava ainda mais.

— Não se sente pronto, Fahir?

— Não sei. Como não sei se acredito na profecia. Por mais que tente, para mim continua sendo uma lenda e nada mais. Lutar por nosso povo e nossa cultura é justo e eu faço isso com toda a força de minha alma. Mas acho mais fácil enfrentar uma cascavel traiçoeira do que acreditar que vou amar alguém que nem sequer conheço.

Maghrabi riu alto.

— Vejo que ainda é o mesmo garoto assustado de dez anos atrás, Fahir. Lembra o que eu disse quando você começou a aprender a manejar a espada?

— Deixe seu coração guiá-lo. — respondeu o rapaz, sorrindo por baixo do véu que emoldurava seus impressionantes olhos azulados.

— Funcionou naquela ocasião, vai funcionar agora. Deixe sempre o coração guiar seus passos e tudo sairá bem.

Fahir encarou o amigo:

— Você é um homem sábio.

— Tão sábio que nunca me casei! — respondeu o outro com uma gargalhada.



***

"A Tunísia recebeu influência de várias civilizações - berbere, cartaginesa, romana, bizantina, árabe e turca - ao longo de quase três mil anos de história. Foi colonizada no ano 1000 a.C. pelos fenícios que, entre outros assentamentos, fundaram a cidade-Estado de Cartago. Em função da concorrência que fazia a Roma pela supremacia comercial e marítima no Mediterrâneo, Cartago veio a ser destruída...", dizia Bahir, o guia turístico que acompanhava a excursão, nos orientando através das ruínas de Cartago.

Olhei, maravilhada, os restos daquelas construções tão antigas e com reverência toquei as pedras numa tentativa de sentir a Histó­ria que elas guardavam. Túnis foi erguida ao lado daquelas ruínas, e a diferença entre as largas avenidas arborizadas da nova cidade e os restos da antiga tornava tudo ainda mais fascinante.

Nosso guia era um rapaz de vinte e poucos anos com um sorri­so que parecia ter sido colado em seu rosto. Tunisiano de nascimento, falava fluentemente inglês e francês, um dos idiomas oficiais do país. Um outro grupo de turistas se aproximava e ele gentilmente ajudou o guia, que parecia ter visíveis dificuldades com datas e locais.

De onde estávamos eu podia ver as águas muito azuis do Mediter­râneo refletindo a luz do sol e me senti tocada por tanta beleza.

— Sonhando acordada, Srta. Hill? — perguntou Jordan, com voz divertida. Ele tinha surgido sabe-se lá de onde.

— Acho que sim. É tudo tão lindo aqui...

— E tão diferente da fria e chuvosa Londres. — completou, enca­rando o mar. — Quem sabe um dia eu me mudo para cá de vez?

— Gosta tanto assim da África? — perguntei para provocar. Algo naquele sujeito me fazia ter vontade de irritá-lo.

— Gosto de lugares promissores... e este com certeza é um deles. — Sua resposta foi enigmática.

— Está esperando chuva? — perguntei, olhando para o guarda-chuva em suas mãos.

— Nunca se sabe quando um guarda-chuva vai ser necessário...

— Ah, Jordan! Aí está você! — aproximou-se a Sra. Burton suando em bicas. — Que lugar quente! Estou derretendo!

Eu sorri e me juntei ao grupo, deixando os dois para trás, envolvidos numa acalorada discussão sobre a Sra. Burton NÃO poder voltar ao hotel sozinha para tomar banho.

Durante os dez dias seguintes vi, ouvi e provei maravilhas que jamais poderia imaginar. Eu estava apaixonada por aquele país, sentindo-me uma verdadeira tunisiana de coração.

Durante nossos passeios, notei algumas coisas que na hora não fi­zeram sentido, mas depois me ajudaram a entender exatamente no que eu tinha me metido: os inseparáveis guarda-chuvas de Jordan e sua mãe; o árabe alto aquela noite no hotel, que aparecia do nada durante os passeios e ficava nos observando de longe; a atenção especial com que Bahir parecia tratar todos nós... principalmente Jordan.

Em nosso grupo havia uma mulher, a Sra. Johnson, com dois filhos encapetados que simplesmente não davam sossego a ninguém. E foi justamente graças a esses dois pestinhas que acabei acrescentando mais um item de estranheza em minhas considerações.

Estávamos na Medina de Túnis, um enorme mercado ao ar livre onde se podia comprar de tudo e onde o ritual da compra exigia que se pechinchasse até o preço chegar a níveis aceitáveis, tanto para o vende­dor como para o comprador.

Estava vendo algumas peças de roupa que pretendia usar em minha viagem pelo país quando ouvi os gritos desesperados da mãe dos garotos, que tinham acabado de passar por mim. Larguei o mer­cador e as roupas e saí correndo pelas vielas, até encontrar os meninos sentados numa escadinha. Eles estavam ao lado de um homem alto e muito forte, de cabelos negros e encaracolados, que caíam até seus ombros com graça e elegância. Parei e encarei o desconhecido, sentindo a força de seus olhos de cor azul-esverdeada.

— São seus filhos? — perguntou ele em inglês perfeito.

A voz era baixa e havia nela um ligeiro tom de sarcasmo. Talvez por me achar uma mãe relapsa, talvez por ver a expressão de espanto em meu rosto.

— Não... — balbuciei, completamente atingida pela beleza e masculinidade do estranho. — Estão na mesma excursão que eu... A mãe está desesperada...

Ele se ergueu, seu porte dominando o lugar, seu corpo perfeito fa­zendo minhas pernas tremerem.

— Então é melhor levá-los, senhora. — disse com ar sério.

— Vamos! — falei para os dois garotos, presa à profundidade daqueles olhos.

Os meninos passaram por mim correndo e eu me virei para mandá-los esperar. Quando me voltei para agradecer ao desconhecido, ele não estava mais lá.

Essa foi a primeira vez que vi Christopher Fahir Tabhet Lowell, o Príncipe do Deserto, o Senhor das Dunas.

— Tudo pronto, Maghrabi? — perguntou Fahir, com ar sério e preparando-se para partir.

— Tudo conforme seu pedido e instruções.

— Alguma notícia dos homens de Mubharak?

— Continuam observando apenas. Devem se aproximar dos ingle­ses durante a viagem a Jerba. Mas já providenciamos para que tudo fique bem.

— Muito bem então. Nos vemos no deserto. Que o Altíssimo esteja com você, meu amigo. — disse, fazendo uma reverência.

— Que Ele guie seus passos, meu senhor. — Maghrabi repetiu o gesto do homem e ficou observando enquanto ele se afastava. Tudo estava caminhando como devia. A questão agora era apenas esperar o destino agir.

***

O Aeroporto Internacional de Jerba é algo fantástico. Aliás, a ilha inteira é. Qualquer um pode encontrar qualquer coisa ali. Os hotéis são babilônicos, os cassinos animados, as praias deslumbrantes.

Bahir nos acompanhou durante todo o tempo em que passeamos pelas lojas e lugares de maior badalação, dando referências históricas e geográficas. 515 quilômetros de Túnis, 300 da fronteira com a Líbia, e ao lado do Saara.

— A presença dos católicos na Ilha de Jerba remonta aos primeiros séculos de nossa era. — dizia Bahir, com sua voz de veludo e sorriso perene.

Nada disso importava. O que realmente acelerava meu coração eram as dunas, que estariam à minha espera na manhã seguinte.

Percebi certo nervosismo em Jordan durante o jantar no restaurante de um cassino, que mais parecia o palácio de um sultão, e não resisti à tentação de alfinetar o rapaz:

— Que foi... Está ansioso para conhecer o deserto? — perguntei com expressão inocente.

Ele sorriu e notei, pela primeira vez, como seu sorriso era encantador.

— Na verdade, só estou cansado. Aliás, queria lhe pedir um favor...

— Claro. — respondi, rogando para que não tivesse nada a ver com a Sra. Burton.

— Se importaria se eu deixasse nossos guarda-chuvas com você esta noite?

Olhei espantada. Será que os dois eram malucos de verdade?

— Claro... Pode deixar que eu cuido deles. — respondi com vontade de rir. "E troco suas fraldas e dou mamadeira também", pensei sorrindo.

— Agradeço muito. — disse a senhora Burton com ar satisfeito.

Durante a sobremesa, novamente reparei no homem de negro que nos observava e imaginei o que estaria acontecendo. Será que Jordan era algum terrorista internacional que usava o guarda-chuva como arma? A orquestra do cassino começou o show quando estávamos termi­nando o jantar e, para minha surpresa, a Sra. Burton praticamente me empurrou para os braços do filho:

— Vão dançar, vocês dois! Divirtam-se!

Jordan se levantou e eu não tive como escapar. Para meu total espanto, ele se mostrou um excelente dançarino, um verdadeiro pé-de-valsa, e acabamos dançando várias seleções seguidas.

— Você é uma ótima bailarina para alguém que restaura quadros. — brincou ele, rodopiando pelo salão.

Eu rebati:

— Você também, para alguém que vem à Tunísia de guarda-chuva.

Jordan soltou uma gargalhada e naquele momento eu o achei extremamente simpático.

***


— Estamos partindo agora. — disse o homem parado à porta do elegante escritório.

— Que não haja falhas desta vez! — sentenciou Mubharak com voz congelante.

O homem curvou-se e saiu. Nu'man Mubharak olhou para a adaga de cabo brilhante à sua frente e a segurou com força. O momento se aproximava e nada poderia sair errado.

***


Acordei no meio da noite, ouvindo gritos no corredor e o som de passos pesados, como se alguém estivesse correndo com muita pressa.

Zonza de sono, sentei-me na cama e dei de cara com a Sra. Burton e filho me olhando como se o fato de estarem em meu quarto no meio da madrugada fosse a coisa mais natural do mundo.

— O que vocês fazem aqui? O que está acontecendo? — perguntei assustada, puxando o lençol para me cobrir.

— Você dorme como uma princesa. Não acha, mãe? — Jordan per­guntou, ignorando minha indignação.

— Vou precisar gritar? O que vocês estão fazendo no meu quarto?

— Shhh! Fale baixo! — respondeu Jordan.

Não acreditei. Depois de invadirem meu quarto no meio da noite ainda me mandavam ficar quieta?

— Escute aqui, seu... — mas não pude continuar. O rapaz pulou na cama e tapou minha boca com a mão.

— Fique quieta! Ninguém sabe que estamos aqui.

— Calma, querida. Só mais uns minutinhos e já vamos embora. — disse a Sra. Burton com simpatia.

Lá fora, no corredor, o barulho continuava. Demorei alguns minu­tos para entender que alguém chamava a polícia em francês. Polícia? Outro assalto? Olhei para os guarda-chuvas sobre a mesa em frente à cama e em seguida para a mulher.

— Solte a moça, querido. Ela não vai gritar. Não é, meu bem?

Fiz que não com a cabeça. Jordan tirou a mão do meu rosto e se sentou do meu lado na cama.

— Sai daí! — falei séria, empurrando o sujeito. — Quero saber o que estão fazendo no meu quarto!

— Estamos esperando aqueles homens horríveis irem embora, querida. — disse a Sra. Burton com suavidade.

— Que homens? E que barulho é esse lá fora?

Jordan não teve tempo de responder. De repente, alguém começou a bater com força na porta do quarto e tanto ele quanto a mãe, escapu­liram para dentro do banheiro.

— Abra! É a polícia! — disse alguém em francês.

Enrolada no roupão do hotel, com cara de sono e achando que tudo aquilo não estava acontecendo, dei de cara com um policial alto e forte, que mais parecia um pugilista, acompanhado de ninguém mais que Bahir, nosso guia.

Bon soir, mademoiselle. — cumprimentou o homem com um vozeirão de arrepiar.

Bon soir, monsieur. O que houve?

— Senhorita Hill, desculpe o incômodo... — começou Bahir, com o sorriso de sempre, que não escondia seu ar de preocupação, mas calou-se diante do olhar feroz do policial.

Mademoiselle Hill, desculpe o incômodo, mas houve um roubo no hotel e gostaria de lhe fazer algumas perguntas, se não se importa.

— Entrem, por favor. — respondi, imaginando se Jordan e a mãe sairiam do banheiro.

O policial varreu meu quarto com uma rápida olhada.

— A senhorita, por acaso, viu ou ouviu alguma coisa estranha? — perguntou, desta vez em inglês.

— Não... — respondi com simplicidade, consciente de que mentia. — Acordei com suas batidas na porta. O senhor falou sobre um... roubo?

— Imaginamos que tenha sido um roubo. Dois quartos foram invadidos e ainda não conseguimos encontrar os hóspedes para saber se algo foi levado. A senhorita por acaso não teria notícias do Sr. Jordan Burton e sua mãe, madame Faith Burton?

— Bem, nós voltamos juntos pro hotel e então eles se recolheram. É tudo que sei. — respondi. "Além do fato de que os dois estão escondi­dos no meu banheiro!", pensei, imaginando onde aquilo ia parar.

Bahir lançou um olhar para os dois guarda-chuvas e eu vi uma sombra de alívio perpassar por seu rosto.

— Caso saiba de algo, mademoiselle, por favor me chame. Ficarei no hotel o resto da noite.

— Eu ainda não entendi o que aconteceu...

— Alguém invadiu os quartos do senhor e da senhora Burton. Não fosse os dois meninos ruivos que corriam pelos corredores, jamais te­ríamos sabido disso.

— Como assim?

— Os filhos do casal Johnson. Os meninos estavam nos corredores, tocando a campainha dos quartos, quando viram o momento em que alguns homens vestidos de negro saíam do apartamento de Jordan Bur­ton. — explicou Bahir, sem se importar com a cara brava do policial.

Por um momento me lembrei do homem que havia encontrado na Medina quando saí correndo atrás das crianças. Será que ele estava no meio dessa confusão? Senti um arrepio percorrer minhas costas só de pensar na possibilidade de rever o desconhecido.

— As crianças estão bem? — perguntei.

— Oh, sim. — disse o policial e saiu do quarto, provavelmente para ir acordar outra pessoa.

— Podem sair daí. — eu disse, abrindo a porta do banheiro, que para minha surpresa estava vazio, com a janela escancarada.

Olhei por ela e imaginei que os dois deviam ter fugido pelo parapeito largo. A distância até o chão não era muito grande, mas, mesmo assim, fiquei pensando como era possível a senhora Burton, que achava que um galo na testa poderia matar alguém, ter fugido por ali.

Por via das dúvidas, tranquei bem a janela e a porta antes de voltar para cama. Lancei um rápido olhar aos guarda-chuvas e adormeci em seguida.

Sonhei que cavalgava pelas dunas, montada em um lindo cavalo negro, conduzido pelo desconhecido da Medina, enquanto o vento do deserto fazia nossas roupas esvoaçarem. Um sonho romântico ou uma previsão de futuro?


Capítulo III
— Camelo?! Eu vou ter que andar num CAMELO?! — revol­tou-se Faith Burton.

Encarei-a com olhar ácido. Jordan e a mãe haviam me evitado a manhã inteira e, quando saímos da Ilha rumo à nossa expedição pelo deserto, fizeram questão de se sentar bem longe de mim.

— Os camelos são muito mansos. — respondi com secura.

— São monstros terríveis, isso sim! — respondeu ela com ar apavorado.

Para alguém que havia invadido meu quarto na madrugada e fugido pelo parapeito da janela, montar num camelo deveria ser brincadeira de criança.

— Eu ajudo, mamãe. — ofereceu Jordan, segurando a mão da mulher.

Observei a cena e, não fosse o fato de querer pegar aqueles dois pelas orelhas e obrigá-los a me contar o que estava acontecendo, teria caído na gargalhada. A senhora Burton e camelos eram duas coisas que definitivamente não combinavam.

Olhei a areia que se estendia à minha frente e abri o coração para o momento que me aguardava. O Saara estava ali, diante de meus olhos, esperando para me acolher com todos os seus mistérios e magia.

Nem Jordan, nem a mãe, nem todos os guarda-chuvas do mundo poderiam atrapalhar aquele instante. Era um momento só meu e do de­serto, nosso primeiro encontro, nossa primeira impressão um do outro.

— Precisa de ajuda? — Bahir ofereceu sua mão, solícito. Ela me ser­viu de apoio enquanto eu subia no animal sem desgrudar os olhos da imensidão dourada que se perdia no horizonte.

Ouvimos atentamente as instruções de nosso guia e conhecemos os homens que nos acompanhariam na empolgante jornada. Todos eles usavam trajes tamasheks, todos mostravam apenas os olhos negros e misteriosos de seu povo.

Tive a impressão que o homem alto, que vinha discretamente se encontrando com Jordan durante aqueles dias, estava entre eles, mas não podia afirmar com certeza.

Bahir continuou explicando sobre o deserto, só que eu já não ouvia mais nada. Estava inebriada pelo cenário. Sem perceber, comandei o imenso animal que me servia de montaria e saí cavalgando lentamente, deixando o grupo para trás.

As pessoas seguiram meu gesto e, minutos depois, estávamos em marcha pelo deserto, deixando Bahir falando sozinho. Ele nos alcançou e me lançou um olhar de reprovação, enquanto dizia:

"O deserto do Saara é o maior do mundo, com área total de 9.065.000 km2, sendo pouca coisa menor que a Europa..."

Desliguei minha mente e ouvidos para sentir o espírito do lugar. Aos poucos, minha alma foi invadida pela sensação de prazer e reali­zação que sempre acontece quando concretizamos nossos grandes so­nhos. Para mim, nada mais importava... eu estava ali, eu e o Saara. Dois amantes de longa data que finalmente se encontravam.

— Preste atenção, senhorita Hill. Isto é importante. — disse Bahir ao meu lado.

"Eu não quero ouvir nada", pensei, sem olhar para ele.

— Embora tudo pareça mansidão e tranqüilidade, o deserto é um lugar perigoso e traiçoeiro. Tempestades de areia podem surgir do nada, e também é muito comum as pessoas terem visões irreais. Caso isso aconteça com algum de vocês, NÃO - eu repito, NÃO se separem do grupo para seguir ou se aproximar do que quer que seja. Entenderam? — perguntou ele olhando diretamente para mim. Não respondi e o discurso continuou:

— O Saara divide o continente africano em duas partes...

Desliguei a mente outra vez e me deixei levar pelo passo manso do camelo e pela visão das areias douradas.

— Posso seguir com você? — perguntou Jordan a meu lado.

Fiz que sim com a cabeça e ele continuou:

— Peço desculpas por ontem à noite. Eu preciso saber... se os guar­da-chuvas estão com você.

Olhei para ele, incrédula:

— Não respondo até você me contar tudo direitinho!

— Não posso... Para sua própria segurança, Lindsay. — ele falou sério.

— Estão em minha mochila. Se você não tivesse evitado me encontrar hoje de manhã, eu já teria devolvido. — respondi irritada.

— Minha mãe achou melhor não te comprometer ainda mais... De qualquer forma, obrigado pela ajuda.

— Como explicaram a ausência pra polícia?

Ele riu.

— Foi fácil. Saímos de seu banheiro e conseguimos entrar em outro quarto. De lá saímos do hotel. Quando a polícia nos encontrou, voltá­vamos tranqüilamente de nosso passeio noturno.

— Mas pra que tudo isso? Afinal, vocês eram as vítimas do roubo... — perguntei curiosa.

— Como disse, é melhor você não saber.

— Quem são vocês, afinal? O que está acontecendo?

Ele sorriu e continuou calado.

Olhei para Jordan, cujos cabelos brilhavam ao sol forte e cujos olhos claros pareciam transparentes pela luminosidade. Ele estava muito bonito naquele momento. Alguma coisa nele me atraía, e até hoje me pergunto o que teria acontecido se Fahir não tivesse invadido minha vida como uma tempestade repentina.

Voltei a atenção para o deserto, enquanto deixávamos a civilização cada vez mais longe.

— Você fica bem nessas roupas, Lind. — disse ele com uma intimidade que eu não havia dado. Pensei em protestar, mas estava mais ocupada em manter meu affair com o Saara.

Eu usava os véus que havia comprado na Medina, em Túnis, por cima do jeans e camiseta. Um pouco para me proteger do sol, um pouco para me sentir mais integrada aos costumes do deserto.

— Seus olhos são lindos. De quem você herdou? — perguntou ele.

Será que o infeliz não via que eu queria ficar em silêncio?

— Da família de minha mãe. Tenho vários primos com olhos cor de mel.

— Italianos?

— De descendência italiana.

— Imagino que os cabelos cacheados venham deles também.

Não respondi. Faith Burton aproximou-se, chamando o filho e eu voltei ao meu caso com as areias.

Fizemos uma parada para o almoço em um acampamento, que des­confiei estar lá só para atender turistas, mas o almoço foi alegre, farto e saboroso: pão, legumes, queijos, frutas e mel.

Terminada a refeição, e após algum tempo de descanso, retomamos a trilha rumo ao acampamento em que passaríamos a noite. A previsão era chegarmos entre quatro e cinco da tarde, antes que o frio congelante das noites nos alcançasse.

Tudo ia bem, até que um dos homens de negro gritou:

— TEMPESTADE!

Olhei o céu e vi a coloração alaranjada indicando a nuvem de areia que se aproximava.

— CUBRAM O ROSTO! CUBRAM A CABEÇA! PROTEJAM OS OLHOS! — gritava Bahir, enquanto os homens nos ajudavam a desmontar e juntavam os camelos.

Um se agarrou ao outro e nos abaixamos todos juntos, cercados pelos experientes tamasheks que nos acompanhavam. Jordan jogou-se por cima de mim, mais para proteger a mochila onde viajavam seus preciosos guarda-chuvas do que para me resguardar, e eu vi o homem, que eu desconfiava ser o mesmo do hotel, acercar-se de nós, dando maior proteção ao grupo.

Não sei bem quanto durou aquilo, mas uma nuvem de areia nos encobriu de tal maneira que seria impossível, mesmo quiséssemos, mantermos os olhos abertos.

Era como se de repente o vento viesse cheio de alfinetes. Esta era a sensação da areia atingindo nossa pele, e eu entendi por que, mes­mo com o sol abrasador, as pessoas da região usavam mangas e calças compridas.

Quando finalmente a tempestade passou, estávamos cobertos de areia. Nossa bagagem, cabelos, roupas e camelos.

— Levantem! — gritou Bahir, conferindo se todos estavam bem. — Como estão vocês? — perguntou a Jordan e a mim, com o sorriso de sempre.

— Bem. — respondemos nos sacudindo e limpando nossas roupas. Aquele foi meu primeiro contato com as surpresas do Saara.

***


— Onde estão eles? — perguntou Mubharak.

— A meio caminho do acampamento. Um dos nossos, que acompa­nha o grupo, acabou de avisar.

— O trabalho de ontem à noite resultou em nada. Espero, para seu próprio bem, que hoje a eficiência seja maior.

— Não encontramos coisa alguma nos quartos, senhor. E os dois não estavam no hotel quando chegamos. Se não fossem aqueles meni­nos gritando, talvez tivéssemos conseguido.

— Primeiro, foram os turistas... agora, duas crianças. O que mais vai me responder, Salah?

O homem abaixou a cabeça:

— À noite, estará feito.

— É bom que sim. — respondeu Mubharak apertando o cabo da adaga em sua cintura.


Quando chegamos ao acampamento, a temperatura já havia caído consideravelmente. Para minha surpresa, tudo parecia deserto. Fomos nos aproximando devagar e, chegando ao centro do lugar, um homem negro, de modos hospitaleiros, apareceu, indicando os locais onde poderíamos descansar. A não ser por ele, tudo parecia abandonado.

Mais tarde, quando já estávamos instalados e devidamente limpos, surgiu o chefe do acampamento. Ele nos cumprimentou como se tivéssemos acabado de chegar.

Bahir explicou que fazia parte da hospitalidade dos tamasheks esperar o visitante descansar antes de lhe dar as boas-vindas. Logo a seguir, as outras pessoas que viviam ali apareceram e fomos cerca­dos por tamanha hospitalidade e simpatia que parecíamos fazer parte daquelas famílias.

Por alguma razão que na hora não entendi, uma das mulheres me conduziu a uma tenda especial e sinalizou para que eu me sentasse no chão. Ela se acomodou a meu lado e pacientemente trabalhou meus cabelos escuros em sofisticadas trancas finas, que me deram uma apa­rência muito diferente. A seguir, pintou meu rosto e lábios, e me indicou uma roupa cuidadosamente dobrada num canto.

— Quer que eu vista isso? — perguntei, completamente encanta­da, imaginando que todas as mulheres do grupo estavam recebendo o mesmo tratamento.

Ela sorriu. Claro que não entendia uma só palavra do que eu estava dizendo.

Obedeci e troquei meu jeans e blusa de lã pela vestimenta negra, finamente bordada com contas coloridas e fios dourados. Não era nada parecido com roupas de odaliscas ou coisa do gênero, mas, ainda assim, as vestes eram muito bonitas e sensuais.

Quando achou que eu estava pronta, minha acompanhante me conduziu para fora da tenda até o centro do acampamento, onde ardia uma fogueira.

Todos se voltaram para me olhar e só então percebi que eu era a única vestida daquela forma. Morri de vergonha!

Jordan assobiou, Bahir sorriu e a Sra. Burton me olhou com espanto.

Sem entender o que estava acontecendo e por que a mulher havia me vestido daquele jeito, sentei-me ao lado de Faith, procurando passar desapercebida.

Uma mulher começou a cantar com voz aguda, enquanto tocava um antigo instrumento musical chamado anzade. Todos em volta se calaram e ficaram ouvindo com respeito. A melodia, estranhamente bela como as noites do Saara, parecia alcançar as estrelas, que brilha­vam como gotas de diamante sobre nossas cabeças.

Era uma canção milenar, assim como aquele povo, transmitida pelas mulheres às suas filhas.

Aliás, cabe aqui um parêntese. As mulheres ocupam lugar de des­taque entre os tamasheks e, diferente de outros povos da região, não cobrem o rosto e têm direito à cultura e à participação nas decisões dos clãs. É também delas o conhecimento do futuro e as responsabilidades pela guarda das tradições, hoje em dia tão esquecidas.

A cantora calou-se e os outros sons encheram o ar. Era uma música animada, que fez as mulheres se levantarem e, aproximando-se da fogueira, começarem a dançar.

Tudo aquilo era no mínimo mágico, algo saído de um livro de histórias. Eu olhava o céu noturno, perdida no mar de estrelas, sentin­do como se aquele lugar não fizesse parte do mundo.

— É sua vez. — disse Jordan, pegando meu braço e indicando o centro do acampamento, onde as mulheres me chamavam para parti­cipar da dança.

Levantei meio tímida e comecei a acompanhar os passos daquele bale milenar. Minutos depois, eu já estava rindo e dançando como se tivesse feito aquilo minha vida inteira. Lembrei-me do meu pai dizendo: "Essa menina nem parece inglesa!", e ri com mais soltura ainda.

Por fim, a dança acabou e fiquei me perguntando se aquele povo, tão antigo, tinha visto a paixão pelo deserto em minha alma e por isso me escolheu para festejar com eles.

Quando o chefe se levantou, todos o seguiram e os cumprimen­tos de boa-noite começaram. Era o sinal para que nós também nos recolhêssemos. Puxei Bahir de lado:

— Por que me pintaram e me vestiram assim? — perguntei curiosa.

Ele apontou para o céu estrelado:

— Por que escolhemos uma estrela como nossa? — virou as costas e foi ajudar os Johnsons a procurar seus filhos que, para variar, haviam sumido.

A tenda de Jordan e mamãe ficava ao lado da minha, e encontrei os dois quando me recolhi.

— Pelo menos, se tiverem que entrar aqui durante a noite, vai ser mais fácil. — provoquei.

A senhora Burton me olhou, surpresa:

— Oh, não! Pode dormir sossegada, querida. Isso não irá acontecer.

— Não mesmo, Lind. Esta noite você vai dormir como um anjo.

— E os guarda-chuvas? — perguntei.

— Não se preocupe. Eles estão em boas mãos.

— Como em boas mãos? Eles estão COMIGO!

— E quer mãos melhores do que as suas? Boa noite. — disse o ra­paz, despedindo-se com um sorriso e sendo seguido pela mãe.

Fui me deitar pensando em tudo que tinha vivido naqueles últimos dias, deixando a imagens das dunas bailarem em meus pensamentos. As dunas e aquele homem... o desconhecido de olhos azuis que não me saía do pensamento.


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