55
A Lei
Absurdo! Pelo fato de sermos livres, temos de deixar de agir?
Porque não recebemos o impulso da lei, devemos ficar desprovidos
de qualquer impulso? Porque a lei se limita a garantir o livre exer-
cício de nossas faculdades, devemos dizer que tais faculdades estão
inertes? Pelo fato de a lei não nos impor formas religiosas, sistemas
de associação, métodos de ensino, procedimentos de trabalho, re-
gras de comércio ou planos de caridade, devemos apressar-nos para
mergulhar no ateísmo, no isolamento, na ignorância, na miséria e
no egoísmo? E deve-se concluir que não saberemos mais reconhe-
cer o poder e a bondade de Deus, que não sabemos mais nos associar
uns aos outros, nem prestar ajuda mútua, amor e socorro a nossos
irmãos em desgraça, nem estudar os segredos da natureza, nem aspi-
rar ao aperfeiçoamento de nosso ser?
o
cAminho
pArA
A
dignidAde
e
o
progreSSo
A lei é a justiça.
E é sob a lei da justiça, sob o reinado do direito, sob a influência
da liberdade, da segurança, da estabilidade e da responsabilidade
que cada pessoa haverá de atingir seu pleno valor e a verdadeira dig-
nidade de seu ser. E somente sob a lei da justiça que a humanidade
alcançará, lentamente, sem dúvida, mas de modo certo, o progresso,
que é o seu destino.
Parece-me que tenho a meu favor a teoria, pois qualquer que seja o
assunto em discussão, quer religioso, filosófico, político, econômico,
quer se trate de prosperidade, moralidade, igualdade, direito, justiça,
progresso, trabalho, cooperação, propriedade, comércio, capital, salá-
rios, impostos, população, finanças ou governo, em qualquer parte do
horizonte científico em que eu coloque o ponto de partida de minhas
investigações, invariavelmente chego ao seguinte: a solução do pro-
blema social está na liberdade.
i
deiA
poStA
à
provA
Por acaso não tenho a meu favor a experiência? Olhe para esse
mundo inteiro. Que países possuem os povos mais pacíficos, mais
felizes e mais cheios de moral? São aqueles nos quais a lei intervém
menos na atividade privada. São aqueles nos quais a individuali-
dade tem mais iniciativa e a opinião pública mais influência. São
aqueles nos quais as engrenagens administrativas são menos nume-
rosas e menos complicadas; os impostos menos pesados e menos de-
siguais; os descontentamentos populares menos excitados e menos
justificáveis. São aqueles nos quais a responsabilidade dos indiví-
duos e das classes é mais efetiva e nos quais, por conseguinte, se os
costumes não são perfeitos, tendem inexoravelmente a se corrigi-
rem. São aqueles nos quais as transações comerciais, os convênios e
as associações sofrem o mínimo de restrições; o trabalho, os capitais,
a população sofrem menores perturbações. São aqueles nos quais
os homens obedecem mais às suas próprias inclinações; nos quais
o pensamento de Deus prevalece sobre as invenções humanas. São
aqueles, enfim, que mais se aproximam da seguinte solução: dentro
dos limites do direito, tudo deve ser feito pela livre e espontânea
vontade do homem, nada deve ser feito por intermédio da lei ou da
força, a não ser a justiça universal.
A
pAixão
do
mAndo
Isto deve ser dito: há no mundo excesso de grandes homens. Há
legisladores demais, organizadores, fundadores de sociedades, condu-
tores de povos, pais de nações etc. Gente demais se coloca acima da
humanidade para regê-la, gente demais para se ocupar dela.
E me dirão: “Você que fala está também procedendo como essa gente.”
Verdade. Mas há de se convir que o faço num sentido e de um
ponto de vista muito diferente. E que, se me intrometo com os re-
formadores, é unicamente no propósito de que deixem as pessoas em
paz. Eu não me volto para o povo da mesma forma que Vaucanson
olha para seu autômato. Eu o faço como um fisiologista que se ocupa
do organismo humano: para estudá-lo e admirá-lo.
Minha atitude para com as outras pessoas está bem ilustrada
na história que se segue, de um célebre viajante: ele chegou a uma
tribo selvagem onde acabara de nascer um menino. Uma turba
de adivinhos, bruxos e curandeiros, armados de anéis, ganchos e
ataduras, rodeava a criança. E um deles dizia: “Este menino não
sentirá jamais o perfume de um cachimbo da paz, se eu não alar-
gar suas narinas.” E outro dizia: “Ele ficará privado do sentido
da audição, se eu não puxar suas orelhas até os ombros.” E um
terceiro comentou: “Ele não verá a luz do sol, se eu não der a seus
olhos uma direção oblíqua.” Um quarto acrescentou: “Ele não
permanecerá jamais de pé, se eu não lhe curvar as pernas.” E um
quinto disse ainda: “Ele não poderá pensar, se eu não comprimir
seu cérebro.” E, após tudo isso, acrescentou o viajante: “Deus faz
bem o que ele faz; não pretendam saber mais do que ele; e, posto
que ele deu órgãos a esta frágil criatura, deixem esses órgãos se
desenvolverem, se fortificarem pelo exercício, o tato, a experiên-
cia e a liberdade.”
56
Frédéric Bastiat
57
A Lei
d
eixem
-
noS
AgorA
experimentAr
A
liberdAde
Deus colocou também na humanidade tudo o que é necessário para
que ela cumpra seu destino. Há uma fisiologia social providencial. Os
órgãos sociais são também constituídos de modo a se desenvolverem
harmonicamente ao ar livre da liberdade. Fora com os curandeiros
e organizadores! Fora com seus anéis, suas correntes, seus ganchos
e suas tenazes! Fora com seus métodos artificiais! Fora com suas
manias de administradores governamentais, seus projetos socializa-
dos, sua centralização, seus preços tabelados, suas escolas públicas,
suas religiões oficiais, seus créditos livres, seus bancos gratuitos ou
monopolizados, suas regras, suas restrições, sua piedosa moralização
ou igualação pelo imposto!
E posto que se infligiram inutilmente ao corpo social tantos siste-
mas, que se termine por onde se deveria ter começado: que se rejeitem
os sistemas; que se coloque, por fim, a Liberdade à prova — a Liber-
dade, que é um ato de fé em Deus e em sua obra.
Ação, humana. Veja Individualismo;
raça humana 30
Agricultura
Analogia a sociedade 34
Ajuda pública 27
Assembleia constituinte 29
Bem-estar 14, 18, 24, 26-27, 41, 45
Billaud-Varennes, Jean Nicolas 43
Blanc, Louis 45-46, 48, 53-54
competição
25
doutrina 8, 21, 24, 44, 47, 49
lei
7, 11-16, 18-29, 31, 34, 37, 40-42, 45-47,
50-56
trabalho 8, 12-14, 21, 23, 25-27, 31-34, 42,
45-48, 51-56
Bonaparte, Napoleão 8, 45
Bossuet 31-32, 45
Capital 13, 55
Capital
deslocamento
13
Cabetistas 50
Cártago 37
Caridade 7-8, 23, 27, 53, 55
Carlier 20
Competição 25
resultados 7, 15, 23, 48
Comunismo 8, 25, 53, 54
Convencionalismo 41
Condillac, Étienne Bonnot de 40
Conformidade forçada 37
Creta 33
Defesa
direito de 12
Defesa própria 11, 12, 13
Í
ndice
r
emiSSivo
Democracia 34
Democratas 8, 36, 47, 49
Direitos
individuais 12, 42, 52
Disposição funesta 14
Distribuição 38
Direitos naturais 11
Ditadura 8, 40, 43-44
Dupin 20
Educação 7, 23-25, 27-28, 30, 33, 39, 40, 42,
46-48, 51-53
Educação
educação clássica 30, 40, 42
controlada 46, 48, 51
liberdade na 48
livre 8, 12-13, 16, 23-24, 27-28, 45-47, 49,
52, 54-57
Eleições 48, 49
Egito 31-33, 41
Egoísmo 24, 44, 55
Eleição
direito de 18, 49
responsabilidade
13, 24, 27, 32, 38, 51, 55-56
Emprego
designado 31
Escravidão
Estados Unidos 19, 20
Esparta 34-35, 41
Espoliação
definida 41
ausência de 23
legal 15, 18, 20-22, 24-25, 27-28
definida 14
extralegal 20, 21, 22, 24, 25
organizada
15
origem da 25-26
parcial 22-23
socialista 21
60
Frédéric Bastiat
tipos 20
universal 14-15, 22-23
Estudos clássicos 30, 32
Felicidade
do governado 50
Frédéric Bastiat 23
Fénelon, François de Salignac de La Mothe
antiguidade
32, 41
Telêmaco 32
Força
comum ou coletiva 11-12
individual 11-12
motivação, da sociedade 44-46
Fourier 45
Fourieristas 50
França
revoluções
50
Fraternidade
imposta legalmente 23-24, 28-29
Fraude 20
Governo
democrático 34, 47-48
educação através da corrupção 7, 23-25,
27-28, 30, 33, 39, 40, 42, 46-48, 51-53
estabilidade 23, 35-36, 55
força 7, 12-14, 22-31, 34, 37, 41, 46, 48, 50,
52, 54, 56
função 7-8, 11, 18, 23, 31, 43, 52
monopólio 16, 22, 48, 51
moralidade 7, 16, 24, 28, 31, 41, 55
poder 8, 14-15, 23, 29, 31-32, 38, 42, 45-48,
50-52, 54-55
propósito do 16, 19-20, 56
republicano 44
responsabilidade e 13, 24, 27, 32, 38, 51,
55-56
resultados 23, 48
virtude 30, 33, 37, 39-40, 44, 46
Grega 33
Grécia
educação 7, 23-25, 27-28, 30, 33, 39-40, 42,
46-48, 51-53
Esparta 34-35, 41
lei
7, 11-16, 18-29, 31, 34, 37, 40-42, 45-47,
50-56
república 34, 40, 44
Humanidade
perdida 42
Igualdade
de riqueza 18, 24, 26-28, 37, 41
Individualismo 52, 54, 55
Justiça
dominante 14
e injustiça, distinção entre 13-15, 17, 20,
25-27, 42, 52, 54
imutável 53
lei e 7, 16, 25-28, 37, 40, 46
Lamartine, Alphonse Marie Louis de
fraternidade
7, 24, 28, 53-54
poder do governo 8, 51
Legislação
conflito na 7, 19
direito universal da 14-15, 17-18, 22-23,
29, 47, 50, 56
monopólio sobre 16, 22, 48, 51
Legislador 15, 24-26, 29-31, 35-41, 43, 47, 52
Lei
espoliação e 7, 14-16, 18-25, 27-28, 53
Estados Unidos 19-20, 48
estudo da 31, 52
de Creta 33
61
Índice Remissivo
grega 35
definida 11
egípcia 31, 32, 33
filantrópica 8, 23, 42, 53
fraternidade e 53
moralidade e 7, 16, 24, 28, 31, 41, 55
onipotência 42, 45, 47, 55
persa 32
a visão de Rousseau 32
pervertida 11
objeto da 26
respeito pela 15-18, 29, 32, 34, 40-41
Liberdade
retorna à 57
negada 48
descrita 41
fornecida pelo governo 38
busca
15, 27
como poder 8, 14-15, 23, 29, 31-32, 38, 42,
45-48, 50-52, 54-55
competição e 25
educação e 7, 23-25, 27-28, 30, 33, 39-40,
42, 46-48, 51-53
individual 11-12, 27, 42, 53
Lepélletier, Louis Michel de Saint-Fargeau 43
Licurgo
governo
7-8, 12-13, 16, 27-28, 31, 40, 43-44,
51-52, 54-55
influência 7, 13, 25, 28-30, 40, 55-56
Luís XIV 32
Mably, Abbé Gabriel Bonnot de 40, 43, 45
Melun, Armand de 54
Mendigos 18-19, 36
Mentor 33-34
Mimerel de Roubaix, Pierre Auguste Remi
19, 54
Monopólio 16, 22, 48, 51
Montalembert, Charles, Comte de 20, 22
Montesquieu, Charles Louis de Secondat,
Baron de 34, 36, 45
Moralidade
lei e 7, 11-16, 18-29, 31, 34, 37, 40-42, 45, 46-
47, 50-56
Morelly 45
Ordem 12-13, 19, 23, 33, 41, 49
Owen, Robert 45
Paraguai 35
Persa 32
Personalidade 26
Platão
república
34, 40, 44
Pérsia 31, 32, 45
Política
espoliação através da 7, 14-16, 18-25, 27-
28, 53
Políticos
bondade dos 55
engenheiro social 36
gênio dos 30, 34, 38-39, 41, 44
importância dos 18, 46
responsabilidade dos 13, 24, 27, 32, 38, 51,
55-56
sonhos dos 54
Propriedade
homem e 8, 11-12, 14, 25, 30, 35-36, 38, 41,
43-44, 46, 48-49, 56
origem da 14, 25-26, 32
Protectionismo
Estados Unidos 19, 20, 48
Proudhonianos 50
Raça Humana
assimilação 14
como uma máquina 30, 36
inércia 47
inerte 29, 31, 41
natureza da 15-16, 18, 37-38, 40-41, 49, 54-55
violação da 20, 24, 26
62
Frédéric Bastiat
Raynal, Abbé Guillaume 38-39, 45
Religião, Estado 28
República
tipos de 20, 34
virtudes da 27, 32, 34, 40, 44, 49, 51
Revolução Francesa 20, 50, 51
Revolta 54
Riqueza
igualdade de 8, 26-28, 34, 40-41, 51, 54-55
Roberspierre, Jean Jacques
governo
7-8, 12-13, 16, 27-28, 31, 40, 43-44,
51-52, 54-55
legislador
15, 24, 26, 29-31, 35-41, 43, 47, 52
Rodes 37
Roma
virtude
30, 33, 37, 39-40, 44, 46
Rousseau, Jean Jacques
sobre os legisladores 8, 19, 23, 30, 32, 34-
36, 38-39, 41, 45, 48-49, 56
discípulos 17, 38, 43
Saint-Cricq, Barthélemy, Pierre Laurent,
Comte de 53
Saint-Just, Louis Antoine Léon de 43
Saint-Simon, Claude Henri, Comte de
doutrina 45
Salento 32, 34
Securança
consequências 13, 15-16, 18, 20, 42, 46
Socialismo
definido 21, 53
espoliação legal 7, 15, 18, 20-22, 24-25, 27-28
experimentos
46
crença sincera 23
Socialistas 7-8, 22, 25, 28-30, 33, 38, 40-41, 43,
48-49
Sólon 37, 40, 43
Sociedade
parabola do viajante 56-57
Sufrágio universal
importância do 18, 46
deficiência do 17, 18, 22, 47
demanda por 17
objeções 17
Tarifa 20
Telêmaco 32
Terror
como um meios de governo republicano 44
Theirs, Louis Adolphe
doutrina
8, 21, 24, 44, 47, 49
educação
7, 23-25, 27-28, 30, 33, 39-40, 42,
46-48, 51-53
Tiro 37
Trabalho 8, 12-14, 21, 23, 25-27, 31-34, 42, 45-
48, 51-56
Universalidade 14
Vaucanson, Jacques dex 56
Vícios e virtudes 27, 32-33, 43, 44, 51
Vida
faculdade da 40
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