Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Caxias do Sul - RS – 15 a 17/06/2017
posição no mundo, o jornalista ultrapassa o ser individual e se transforma numa espécie
de predestinado, com o dom de penetrar nas formas de vida e contar a todos o que lá
existe. Esse dever, somado à responsabilidade necessária para desempenhar bem o
papel, significa compreensão humana: de quem, sobre quem, para quem se escreve.
Pensando deste modo, todo jornalismo é humano. Do aspecto ideal, não deveríamos
sequer estar questionando a possibilidade de existir um jornalismo desumanizado.
Porém, considerando a Declaração Universal dos Direitos Humanos e sua efetividade,
os questionamentos já começam a aparecer. Segundo o documento, "todas as pessoas
nascem livres e iguais em dignidade e direitos". E o texto continua:
II - Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades
estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de
raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem
nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. Os
códigos de ética e deontológicos do nosso fazer enfatizam estes preceitos .
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Parece desnecessário que isso precise ser expresso e garantido através de um
documento. Mais do que isso, parece exagero uma cláusula para reforçar isso no próprio
Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros , que expressa como um dos deveres do
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profissional “[...] defender os princípios expressos na Declaração Universal dos Direitos
Humanos”. O mesmo artigo detalha a preocupação de “defender os direitos do cidadão,
contribuindo para a promoção das garantias individuais e coletivas, em especial as das
crianças, adolescentes, mulheres, idosos, negros e minorias”.
Na prática, por diversos motivos, isso não ocorre com tanta naturalidade. Entre
os aspectos que precisamos considerar estão as mudanças tecnológicas, que impactaram
diretamente as rotinas produtivas. Embora não seja possível mensurar as consequências,
refletir sobre essas mudanças pode contribuir para compreendermos os processos.
Midiatização social
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Disponível em
http://www.dudh.org.br/wp-content/uploads/2014/12/dudh.pdf
. Acesso em 10 de março
de 2017.
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Disponível em: Disponível em: http://fenaj.web2015.uni5.net/wp-content/uploads/2014/06/04-
codigo_de_etica_dos_jornalistas_brasileiros.pdf. Acesso em 10 de março de 2017.
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As mudanças da comunicação, sobretudo em decorrência do surgimento de
novas tecnologias, impulsionaram um processo denominado por diversos autores como
“midiatização”. Para Eliseo Verón (1997), as mudanças ocorrem não só por causa da
evolução da tecnologia, mas também pelo aumento da demanda por informações.
Assim, define comunicação midiática como “[...] essa configuração de meios de
comunicação resultantes da articulação entre dispositivos tecnológicos e condições
específicas de produção e de recepção, configuração que estrutura o mercado discursivo
das sociedades industriais” (VERÓN, 1997, p. 13).
Quando versa sobre midiatização, Verón compreende, através de uma
abordagem sociológica, como um complexo emaranhado resultante da relação entre
instituições, meios e atores individuais (indivíduos membros de uma sociedade,
inseridos em complexas relações sociais).
Antes da midiatização, os pesquisadores denominavam o período como
“sociedade dos meios”, em que a centralidade do jornalismo era maior e o processo de
comunicação era praticamente linear. Já as novas tecnologias ampliaram as
possibilidades de interação entre os jornalistas e o público. Neste sentido, Fausto Neto
(2008) define o processo de midiatização como ambiente pelo qual produtores e
consumidores da informação fazem parte de uma mesma realidade de fluxos, que
permite conhecimento e reconhecimento simultâneos, formado por estratégias e modos
de interação proporcionados pelas tecnologias (FAUSTO NETO, 2008).
A internet ampliou as possibilidades, mas por diversos fatores, como a língua,
geografia, cultura e falta credibilidade das fontes, os meios de comunicação continuam
sendo uma das principais formas de difusão do conhecimento. Neste cenário, são os
jornalistas que seguem detendo a responsabilidade de selecionar os acontecimentos que
serão divulgados através de notícias e reportagens.
Já para os jornalistas, a midiatização afetou drasticamente as redações. Muitos
aspectos foram positivos, com novas ferramentas de pesquisa e contato com as fontes,
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