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Levando em consideração o
que foi exposto pela autora, observamos que o conceito de atividade
defendida por ela, está em consonância com as idéias assentadas por Fossa (1998) e Mendes (2001),
quando reforça a necessidade da participação ativa do aluno, auxiliando na construção do seu saber,
propiciando momentos de discussão em grupo, de registro e oralidade das idéias construídas, considerando
também, os saberes que os alunos apresentavam sobre o assunto e a seqüênciação do conteúdo a ser
abordado.
Brito e Morey (2004) lançaram mão de atividade em conexão com a Geometria e Trigonometria. As
autoras se propõem a fazer um estudo das dificuldades em geometria e trigonometria enfrentadas por
professores de matemática do Ensino Fundamental. Fazem-no através de um curso de extensão intitulado
“Formação Continuada de Professores de Matemática” oferecido a estes professores,
curso este
organizado através de atividades que os ditos professores deveriam resolver em grupos de quatro ou cinco
pessoas.
Para as autoras, as atividades elaboradas tinham como objetivo desenvolver conceitos e, para
tanto, construíram oficinas que eram compostas de um grupo de atividades, construídas a partir de
hipóteses levantadas sobre as possíveis dificuldades que professores (o grupo pesquisado) apresentavam
com relação ao conceito que iria ser desenvolvido pelas pesquisadoras.
Brito e Morey (2004, p. 12) esclarece que: “as atividades foram desenvolvidas, em forma de
oficinas, com acompanhamento
direto do professor, realizando registro das resoluções dos professores que
compunham a amostra (...)”
Observamos que as atividades propostas foram organizadas em forma de tarefas que foram
preparadas tomando como base o principio da seqüênciação do conteúdo a ser abordado, considerando
questão mais simples para a mais complexa.
Não ficou explicito no artigo das pesquisadoras a definição de atividade, mas na elaboração e no
desenvolvimento das mesmas está implícita a importância da participação ativa do aluno (que no caso
exposto, eram professores participantes do curso de extensão); a mediação do professor na aplicação das
atividades; a importância de descobrir os conhecimentos prévios dos alunos como
forma de contribuir na
elaboração das mesmas, como também a necessidade de desenvolver estudos paralelos para subsidiar a
construção do conceito proposto pela atividade.
Em todas as atividades propostas estavam explícitos os objetivos a serem alcançados, o material a
ser utilizado e os procedimentos a serem executados pelos alunos.
É importante ressaltar, a necessidade de se compreender em que consiste o conceito de atividade
nas diferentes visões, com vista a perspectiva de se utilizar desse recurso na elaboração
da proposta
didática. Como vimos, atividade não é um simples exercício de fixação, ela pode ser elaborada para
contribuir na construção de conceitos, como também, na aplicação de conhecimentos construídos em
outras situações de ensino.
Evidenciam-se, através das idéias apresentadas por esses autores, a existência de pontos comuns
na elaboração das atividades. Entre eles podemos citar: a necessidade de se observar os conhecimentos
prévios do aluno acerca do conteúdo a ser abordado na atividade; a intervenção do professor no processo
de
desenvolvimento da atividade; a atuação direta do aluno na atividade proposta; a sistematização do
conteúdo abordado na atividade por parte do professor; a importância da representação escrita das
soluções propostas; o significado do material manipulativo no desenvolvimento do conteúdo proposto; o
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desenvolvimento da oralidade,
por parte do aluno, para subsidiar o trabalho do professor; a necessidade de
um trabalho bem planejado no desenvolvimento das atividades.
Nessa perspectiva, é importante considerar que o trabalho com atividades requer do professor, uma
postura diferenciada, em que a pesquisa, o diálogo a mediação e a sistematização constituirão elementos
essenciais na sua ação docente.
Explorando os artefatos da História da Matemática nas aulas de Matemática
Na nossa proposta didática, a História da Matemática desempenha funções múltiplas: a de
motivação para a aprendizagem da matemática, a de melhorar a compreensão dos conceitos matemáticos
e apresentar a matemática como resultado de criação humana.
No enfoque aqui proposto a utilização da História da Matemática nas aulas de matemática não se
detém apenas em leitura de documentos históricos. Na verdade, as atividades incluem a construção e
manipulação de artefatos (Percival, 2001) que possam
ser manipulados pelo aluno, facilitando a
compreensão dos fatos históricos, buscando estabelecer a inter-relação entre os conhecimentos das áreas
dos Estudos Sociais, das antigas civilizações, e o conhecimento matemático destas. Entre tais modelos
podemos citar: trechos de papiros egípcios cujo conteúdo seja propício à exploração em sala de aula,
tabletes babilônicos de conteúdo matemático, etc.
A manipulação dos modelos construídos pelos alunos permite desenvolver habilidades de
observação, argumentação, interpretação, registro e construção, colaborando
com o aluno no processo de
construção do conhecimento.
A título de conclusão
A imersão da História da Matemática, em forma de atividades, nos cursos de formação de
professores, trás como possibilidade mudanças na forma de ensinar e aprender os conteúdos de
Matemática. Nesta perspectiva, a abordagem do conhecimento matemático, partindo de elementos
históricos, visa modificar a dinâmica da sala de aula direcionando o trabalho pedagógico para o processo de
construção do conhecimento pelo aluno.
Assim sendo, acreditamos que essa proposta didática propicia ao professor, momentos de reflexão
e aprendizagem acerca da construção do conhecimento matemático, tendo
em vista que as atividades
elaboradas tomam como ponto de partida às idéias ancoradas no conhecimento histórico, o que as tornam
um recurso motivador para a aprendizagem do aluno.
Referências
BRITO, Arlete de Jesus. MOREY, Bernadete Barbosa. Geometria e trigonometria: dificuldades dos
professores de matemática do ensino fundamental. In: FOSSA, John A. (org.).
Presenças
Matemáticas.
Natal, RN: EDUFRN, Editora da UFRN, 2004. 260p.
FOSSA, John A.
Ensaios sobre a Educação Matemática.
Belém: EDUEPA, 2001. 181p. (Série Educação;
n.2)
GUTIERRE, Liliane dos Santos.
Inter-relações entre a História da Matemática, a Matemática e sua
Aprendizagem.
2003. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Programa de Pós-Graduação em Educação, Natal, RN, 2003.