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reunir informações que indiquem nomes de potenciais entrevistados. Essa articulação
com os documentos
ditos oficiais é um aspecto importante da inserção dos depoimentos na história das instituições, pois tem,
também, o desígnio de preencher as lacunas de tais documentos.
A busca pelos depoentes poderá acontecer, também, através do mecanismo de critério de rede
(Gattaz, 1996), em que "os próprios depoentes indicam outros para serem entrevistados, criando uma
comunidade de argumentos".
As entrevistas serão conduzidas a partir de questões pré-determinadas e de questões surgidas
após possíveis informações abordadas pelos entrevistados ou, ainda, a partir de questões que venham
suprimir a omissão de detalhes que interessem à
pesquisa, quando o caso for eticamente viável. Aliás, este
é um detalhe que se faz presente no trabalho: o respeito ao interlocutor.
Garnica (2003) adverte:
Os termos gerais da pesquisa – seu objetivo, suas pretensões, seus procedimentos, a
equipe envolvida, o uso que se fará do material coletado etc – devem ser, já de início,
explicitados claramente ao depoente. A concordância com esses termos – ou com os
termos que resultarem do processo de negociação – se captados por gravação, dispensará
a carta de cessão que permitirá o pesquisador o uso dos dados para fins acadêmicos [...] As
condições gerais da entrevista – tempo, numero de seções, locais etc – devem submeter-se
primeiramente às condições do depoente.
Após a coleta das entrevistas, os documentos escritos produzidos a partir delas serão analisados
segundo um pensamento hermenêutico
1
. Muitos autores salientam o fascínio das
entrevistas envolvidas em
pesquisas na História Oral. O compreender do "eu no tu", diz Dilthey (1959-1962) é ponto fundamental para
colocar a pesquisa com história oral apoiada na Hermenêutica, cujo modo de pensar, “consiste em valorizar
o movimento de se colocar no lugar do outro para compreendê-lo e em acreditar que essas coisas (o
passado, os sonhos, os textos, por exemplo) têm um sentido latente a que se chega pela interpretação”,
num processo que começa quando o diálogo termina (Ricoeur, 1976).
Os depoimentos, que serão gravados, passarão por um processo chamado “transcrição”, fase
primária de tratamento dos depoimentos no qual será feito o primeiro registro
escrito dos depoimentos
sendo fiel a todos os elementos lingüísticos presentes nos diálogos entre pesquisador e colaborador
(depoente). Nesta primeira fase, expressões como "né", "tá", entre outros vícios de linguagem serão
mantidos.
Em um segundo momento, o depoimento – agora já na forma escrita – passará pelo processo de
“textualização”. Haverá, então, uma mudança mais radical no texto da transcrição. Nesse processo, os
dados coletados serão respeitados, omitindo-se as perguntas, os vícios de
linguagem e construindo um
texto contínuo, onde as informações são colocadas de forma corrente e integradas com o contexto da
pesquisa. Este texto não é de autoria do autor ou do entrevistado, mas com dupla autoria.
Esta textualização será devolvida ao entrevistado para que ele faça as suas considerações,
censurando ou acrescentando informações, enfim, corrigindo o que julgar necessário para, feito isso,
retornar o material para, possivelmente, negociar essas alterações em vista dos objetivos da pesquisa.
1
O modo de pensar hermenêutico consiste em valorizar o movimento de se colocar no lugar do outro para compreendê-lo e em
acreditar que seu passado, sonhos, memórias, têm um sentido Latente (profundo, não-aparente) a
que se pode chegar pela sua
interpretação.
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3. Exeqüibilidade
O regate das tradições, da cultura e da história de um povo, ou de um certo grupo de pessoas, a
exposição de acontecimentos que podem ser considerados irrelevantes aos olhos de alguns, mas que tem
sua importância nas vidas dos depoentes, podem incentivar os estabelecimentos de ensino superior e os
prováveis depoentes a abrirem suas portas e as de suas memórias para contribuírem com esta empreitada.
Contudo uma pesquisa deste porte não dependerá, para sua execução, apenas da boa vontade das
pessoas consultadas, de forma que as informações surjam espontaneamente – mesmo que nos primeiros
contatos com professores e funcionários ligados aos órgãos a serem pesquisados,
estes tenham mostrado
grande empatia pela investigação proposta. O conhecimento de pessoas envolvidas nos “fatos históricos”
2
investigados é ponto chave para o desenrolar dos trabalhos. Entre eles estão professores das
Universidades Católica e Federal de Goiás (UCG e UFG, respectivamente), ainda lecionando nessas
instituições e dos quais tive a oportunidade de ser aluno durante meu curso de graduação.
Tanto as universidades acima citadas, como outras, têm idades de institucionalização que não
ultrapassam 50 anos. Logo, muitos dos que participaram de seu início estão vivos e poderão contribuir com
seus depoimentos. E como há, ainda, poucas pesquisas sobre o assunto, estas poderão ser levantadas na
investigação bibliográfica, cujo processo já se iniciou e tende a apontar algumas informações que dirigirão
os próximos passos do trabalho, como a identificação de potenciais depoentes, por exemplo.
4. Relevância
Entendo que a efetivação de uma pesquisa como a dessa nossa proposta tem grande relevância,
visto que poucas foram realizadas neste viés, ou seja, dando voz aos participantes
dos acontecimentos a
serem estudados. Aquelas já existentes tocam, ao meu ver, os assuntos de forma superficial e deixam de
falar de pontos que pretendo abordar, como, por exemplo, as questões políticas envolvidas, condições
relacionadas (ou não) com os incentivos à pesquisa dentro das instituições, dentre outros temas que os
pesquisadores internos a estas instituições preferem não citar em seus trabalhos e publicações
sobre o
assunto, por conveniência ou mesmo ética profissional.
Gostaria de ressaltar, ainda, que os objetivos da pesquisa não são os de julgar pessoas ou
instituições, mas conhecê-las a partir de certos óculos teóricos. E mais, voltando ao item dois deste texto,
serão respeitados os direitos dos entrevistados de censurar os trechos das entrevistas que julgarem
convenientes.
5. Cronograma
Admitindo que vários fatores podem alteram um plano rígido de cronograma, entendo que este é
apenas uma possibilidade, por isso está posto de forma ampla e aberto para alterações.
Num período que posso chamar de pré-pesquisa, concluirei quatro das seis disciplinas exigidas
como número mínimo para a conclusão do mestrado, além das primeiras leituras sobre a metodologia da
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A expressão “fatos históricos”, aqui, não está em sua acepção clássica e estática. Pensamos fatos históricos
como os momentos que
sobrevivem nas memórias, perpassados pelas percepções humanas (e portanto fluidos, perspectivais), sendo esta memória e seu
relato os principais elementos a partir dos quais “fatos” são historicamente resgatados e, ainda mais, a partir do que eles são
propriamente constituídos; “Na História Oral Temática, todos os indivíduos são agentes históricos e os fatos lembrados são as
substâncias que constatam a história. Desse modo, os fatos lembrados ou esquecidos somente sobrevivem se fazem sentido para
as pessoas e se tornam fatos históricos”. (Baraldi, 2003, P. 221)