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Volume 18, nº 1, julho de 2015
Revista Uniara
Resenha
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Volume 18, nº 1, julho de 2015
Revista Uniara
Um Olhar sObre
“epistemOlOgias dO sUl” de
bOaventUra de sOUsa santOs
Marília Luana Pinheiro de Paiva
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resUmO
Este trabalho é uma resenha que tem a finalidade de discutir sobre a proposta que Boaventura de Sousa
Santos traz em Epistemologias do Sul, na qual o autor discute sobre o pensamento abissal da epistemologia
moderna ocidental e seus fragmentos e lacunas, pois aponta que paira sobre as epistemologias um padrão
de hierarquização no qual, assim como as culturas, as epistemologias também foram suprimidas com o
processo de colonização. Enfatiza a necessidade de um diálogo e de um resgate de outras formas de saberes.
Assim, o conhecimento pós-abissal busca fazer esta ponte, bem como compreender a ecologia de saberes
da modernidade. A partir de uma análise crítica de sua obra e seus apontamentos é possível compreender
os aspectos centrais que Boaventura de Sousa Santos discute sobre cultura, intersubjetividades e relações
sociais no processo epistemológico e, através de seu estudo, podemos compreender as suas relações e
desdobramentos.
palavras-chave: Epistemologias do Sul, pensamento abissal, pensamento pós-abissal.
a look at boaventura de sousa
santos’ epistemologias do sul
abstract
This work is a review to discuss Boaventura de Sousa Santos’ proposal in Epistemologias do Sul (South
Epistemologies), in which the author discusses the abyssal thinking of modern Western epistemology
and their fragments and gaps, pointing at a ranking pattern hanging over the epistemologies, in which,
epistemologies as well as cultures were also deleted in the process of colonization. It emphasizes the need
for dialogue and a rescue of other forms of knowledge. This way, the post-abyssal knowledge seeks to
make this bridge and understand the ecology of modern knowledge. Based on a critical analysis of his
work and of his notes one can understand the core aspects that Boaventura de Sousa Santos discusses
about culture, intersubjectivities and social relationships in the epistemological process and, through his
study, we can understand their relationships and developments.
Keywords: South Epistemologies, Abyssal thinking, Post abyssal thinking.
1
Universidade Estadual de Ponta Grossa
e-mail: marilia-lua1@hotmail.com
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Revista Uniara
Este artigo é uma resenha sobre o livro
“Epistemologias do Sul” organizado pelo escritor
Boaventura de Sousa Santos. Importante livro
para se discutir a respeito da cultura, saberes não
dominantes e as epistemologias afogadas pela
cultura de dominação no mundo. Boaventura
de Sousa Santos nasceu na cidade de Coimbra,
Portugal, no dia 15 de novembro de 1940. De uma
família operária, interessou-se pelos estudos desde
cedo. Licenciou-se em Direito pela Universidade
de Coimbra em 1963, realizou no ano de 1964 um
curso de pós-graduação na Universidade de Berlim
(bolsista).Obteve o título de mestre em 1970, pela
Yale University, com a tese “As Estruturas Sociais do
Desenvolvimento e o Direito”, e em 1973 concluiu
o doutorado pela mesma instituição. Atualmente,
é professor catedrático da Faculdade de Economia
da Universidade de Coimbra, Distinguished Legal
Scholar da Faculdade de Direito da Universidade
de Wisconsin-Madison, e Global Legal Scholar
da Universidade de Warwick. É diretor do Centro
de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra,
diretor do Centro de Documentação 25 de Abril da
mesma universidade e coordenador científico do
Observatório Permanente da Justiça Portuguesa.
Sua produção bibliográfica é vasta, e suas pesquisas
se focam em epistemologia, sociologia do direito,
teoria pós-colonial, democracia, interculturalidade,
globalização, movimentos sociais, direitos
humanos. Os seus escritos já foram traduzidos
para o espanhol, inglês, italiano, francês e alemão.
Boaventura de Souza Santos possui relação com
o Brasil, pois no início da década de1970 esteve
morando por alguns meses na cidade do Rio de
Janeiro, mais especificamente em uma favela,
para as pesquisas do seu doutorado. Essa relação
se deixa mostrar também pela quantidade de livros
publicados no país. De 2010-2013 foi Coordenador
do projeto “A sociedade civil organizada e os
tribunais: a mobilização do direito e da justiça em
Lisboa, Luanda, Maputo e São Paulo”.
Para Boaventura de Souza Santos o organizador
do livro “ Epistemologias do Sul” o modelo
hegemônico da ciência moderna é oriundo do
modelo de racionalidade que se constituiu a
partir da revolução cientifica do século XVI e
alcançou seu apogeu no século XIX. Refere-se
a um modelo que se baseia em leis gerais e o
campo de atuação se destina ás ciências naturais.
Mas devido ao avanço da ciência moderna levaria
à sua crise e então à necessidade de um novo
paradigma. A partir dos princípios de Einstein,
da relatividade da simultaneidade, Heisenberg e
seu princípio da incerteza, Gödel e o teorema da
incompletude, e Prigogine e a teoria das estruturas
dissipativas e o princípio da ordem através das
flutuações, Boaventura demonstra que a mudança
paradigmática está a ocorrer. É uma característica
e dimensão transdisciplinar, que parece aproximar
as ciências naturais e ciências humanas.
Epistemologia é toda concepção refletida ou não
sobre as condições de conhecimento válido. Não há
conhecimento sem práticas e atores sociais, assim
como diferentes tipos de relação originam diferentes
epistemologias. Em sua relação mais extensa as
relações sociais também são culturais e políticas,
compreendo assim que todo conhecimento é sempre
contextual em relação ás diferenças culturais e
políticas . As Epistemologias do Sul se propõem a
tarefa de responder as perguntas:
Por que razão, nos dois últimos séculos,
dominou uma epistemologia que eliminou
da reflexão epistemológica o contexto
cultural e político da produção e reprodução
do conhecimento? Quais foram as
consequências de tal descontextualização?
São hoje possíveis outras epistemologias? A
resposta a tais questionamentos significa o
resgate de modelos epistemológicos outrora
desconsiderados pela soberania epistêmica
da ciência. Isso pode levar a que sejam
revaloradas identidades e culturas que foram,
durante séculos, intencionalmente ignoradas
pelo colonialismo.
Este foi responsável por imprimir uma
histórica tradição de dominação política e
cultural, que submeteu à sua visão etnocêntrica
o conhecimento do mundo, o sentido da vida
e das práticas sociais.
(GOMES, 2012, p. 40)
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As Epistemologias do Sul surgem diante da
visão que o mundo é variado e diversificado em
relação às culturas e saberes, mas que no decorrer da
história da modernidade se sobrepôs uma forma de
conhecimento pautada no modelo epistemológico
da ciência moderna, desconsiderando os outros
saberes. Assim, essa ação de sufocamento das
demais epistemologias e suas culturas acarretaram
o que o autor chama de epistemicídio. Devastadores
de saberes locais, desvalorizando tantos outros:
Designamos a diversidade epistemológica
do mundo por epistemologias do Sul. O Sul
é aqui concebido metaforicamente como um
campo de desafios epistémicos, que procuram
reparar os danos e impactos historicamente
causados pelo capitalismo na sua relação
colonial com o mundo. Esta concepção do Sul
sobrepõe-se em parte com o Sul geográfico,
o conjunto de países e regiões do mundo
que foram submetidos ao colonialismo
europeu e que, com exceção da Austrália e
da Nova Zelândia, não atingiram níveis de
desenvolvimento económico semelhantes ao
do Norte global (Europa e América do Norte).
(SANTOS; MENESES, 2009, p 12-13)
Entende-se que epistemologias do Sul é uma
teoria epistêmica que questiona os saberes que
foram suprimidos ao longo dos últimos e as suas
intervenções epistemológicas que denunciam a
supressão de saberes dominantes há séculos e
discute um diálogo entre estes conhecimentos.
As Epistemologias do Sul surge diante da visão
que o mundo é variado e diversificado em relação
às culturas e saberes, mas que no decorrer da
historia da modernidade sobrepôs uma forma de
conhecimento pautada no modelo epistemológico
da ciência moderna, desconsiderando os outros
saberes. Assim a essa ação de sufocamento das
demais epistemologias e suas culturas acarretou no
que o autor chama de epistemicídio.
Epistemologias do Sul denuncia o sistema que
sustentou essa hierarquização epistêmica moderna,
um sistema que se desenvolveu com a exclusão e
o ocultamento de povos e culturas que ao longo da
História foram dominados pelo capitalismo e pelo
colonialismo. A finalidade das Epistemologias do
Sul, além de um diálogo entre estes conhecimentos,
é procurar ressaltar estes conhecimentos calados,
é a superação desse modelo epistêmico moderno
ocidental que se classifica como um pensamento
abissal, pois é um pensamento que através de linhas
imaginárias divide o mundo em duas esferas (Norte
e Sul) e o polemiza, porém os elementos (saberes)
que não se encaixam nesse parâmetro da linha
tornam-se inexistentes.
Boaventura de Sousa Santos defende que
a epistemologia ocidental dominante foi
construída na base das necessidades de
dominação colonial e assenta na ideia de
um pensamento abissal. Este pensamento
opera pela definição unilateral de linhas que
dividem as experiências, os saberes e os atores
sociais entre os que são úteis inteligíveis e
visíveis (os que ficam do lado de cá da linha) e
os que são inúteis ou perigosos, ininteligíveis,
objetos de supressão ou esquecimento (os
que ficam do lado de lá da linha). (GOMES,
2012, p. 43)
O pensamento moderno ocidental é um
pensamento abissal, ou seja, um pensamento dotado
de buracos, aquele pensamento que é excludente
em sua hegemonia e acaba por suprimir e opor-se
a outras versões epistemológicas. Possui distinções
visíveis e invisíveis, as visíveis são as que dividem a
realidade social em dois lados “deste lado da linha”
e do “outro lado da linha”, que acabam por tornar
o lado de lá, inexistente, excluído e permanece.
“A negação de uma parte humanidade é
sacrificial, na medida em que constitui a condição
para a outra humanidade se afirmar enquanto
universal” (SANTOS 2010 p 31)
As expressões desse pensamento se consolidam
no âmbito do Direito tem a visão de uma linha
abissal que separa o legal e o ilegal, consideradas
as únicas medidas de existência perante a lei.
Em cada um dos dois grandes domínios do
cientifico e do direito os aspectos suprimidos
pelas linhas globais são abissais, pois eliminam
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qualquer realidade que se encontra do outro lado
da linha. Tudo o que não pudesse ser pensado como
verdadeiro ou falso de legal ou ilegal ocorria na
zona colonial. No período da colonização o poder
se concentrou também em uma predominância
epistemológica, pois a colonização não ocorreu
apenas no processo de povoamento de dominação,
mas também de soberania epistemológica , se
constituindo em uma relação desigual de saber e
poder que suprimiu muitas formas de saber próprio
dos povos e nações dominadas Este lado separa
o verdadeiro e o falso, o legal e o ilegal, o outro
lado da linha compreende uma ampla gama de
experiências não vistas, desperdiçadas tornadas
invisíveis.
Regulação e emancipação social referem-se
ao domínio das civilizações e aprisionamento
de seus saberes, havendo uma regulação de seus
conhecimentos, em beneficio de uma superação de
um saber dominante.
A apropriação e a violência tomam diferentes
formas na linha abissal jurídica e na linha abissal
epistemológica. Se manifestam em incorporações,
no domínio do conhecimento e através de proibições
do uso das línguas próprias em espaços públicos,
da adoção forçada de nomes cristão e destruição
de símbolos e lugares de culto e etc. Em relação ao
direito, a apropriação e violência é complexa em sua
relação cm a extração de valor: trafico de escravos
e trabalho forçado e o uso manipulador do direito
em prol das autoridades tradicionais.
Existe, portanto, uma cartografia moderna
dual: a cartografia jurídica e a cartografia
epistemológica. O outro lado da linha abissal
é um universo que se estende para além da
legalidade e ilegalidade, para além da verdade
e da falsidade. Juntas, estas formas de negação
radical produzem uma ausência radical, a
ausência de humanidade, a sub-humanidade
moderna.(SANTOS; 2009, P 30)
Seres sub-humanos são considerados sequer
candidatos à inclusão social. Esta ignorância em
relação a outros saberes de modo a reprimi-los é
chamado de fascismo epistemológico, que o autor
compara com a ascensão do fascismo social- que
consiste num regime social de relações de poder,
como por exemplo: fascismo do apartheid Social-
separados em uma relação entre selvagens e
civilizados, fascismo contratual- relação de poder
diante de um contrato civil, fascismo territorial-
poder em relação ás instâncias do estado e
regulação social sobre os habitantes.
No decorrer histórico estes aspectos dominantes
da ciência moderna teriam sido superados
devido aos avanços tecnológicos e econômicos,
porém Boaventura de Souza Santos aponta que
esta realidade de predominância e dominação
epistemológica soberana que sufoca outros
conhecimentos é tão verdadeira hoje como no
período colonial
O pensamento moderno ocidental opera
mediante linhas abissais. Boaventura ressalta
como exemplo Guantánamo que representa as mais
grotescas manifestações do pensamento abissal e
jurídico.
Assim, no âmbito do conhecimento se firma uma
linha abissal entre o verdadeiro e o falso, tendo
a ciência moderna detentora desse poder sob a
distinção entre elas.
Em contraponto temos: Filosofia e teologia (que
não se encaixam no pensamento abissal do modelo
epistêmico da ciência moderna) que não podem ser
estabelecidas de acordo com o método científico
abissal, é o caso da razão como verdade filosófica
e da fé como verdade religiosa.
A tensão entre ciência, filosofia e a teologia
são alternativas visíveis. A sua visibilidade está
na invisibilidade das formas de conhecimento
que não se encaixam em nenhuma dessas formas
de conhecer. Referindo-se aos conhecimentos
populares, leigos, plebeus, camponeses, ou
indígenas que do outro lado da linha desaparecem.
Eles desaparecem como conhecimento relevante
por se encontrarem para além do universo do
verdadeiro e falso, considerando-se se inexistentes,
desconhecidos esses conhecimentos. Mas é
inimaginável aplicar a distinção científica entre
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verdadeiro e falso e as verdades inverificáveis
da filosofia e da teologia que constituem o outro
conhecimento aceitável desse lado da linha. Do
outro lado da linha, não há conhecimento real;
existem crenças, opiniões, magia, idolatria,
entendimentos intuitivos ou subjetivos, que podem
se tornar objetos para uma inquietação cientifica. A
linha visível que separa a ciência dos seus “outros”
conhecimentos, de um lado ciência , filosofia e
teologia e do outro, conhecimento incompreensíveis
por não obedecerem os critérios científicos de
verdade e nem os reconhecimentos alternativos da
filosofia e da teologia.
Permanecendo no pensamento abissal a exclusão
e a impossibilidade da co-presença, que seria
a identificação das práticas e agentes dos dois
lados da linha, são contemporâneos em questões
igualitários.
As linhas abissais não estiveram sempre fixas,
numa mesma posição, mas se deslocaram no
percorrer da História. No decorrer histórico estes
aspectos dominantes da ciência moderna teriam
sido superados devido aos avanços tecnológicos e
econômicos, porém Boaventura acredita que essa
realidade é tão presente como era na era colonial
A superação do pensamento abissal e da
instituição proposta por Boaventura como uma
ecologia de saberes, pode se concentrar em cinco
ideias principais:
A epistemologia dominante está inserida
no contexto de uma dupla diferença: diferença
cultural, aspectos características. Diferença política,
colonialismo e capitalismo. A ideia do epistemicídio
que é o extermínio dos conhecimentos locais. A
ideia que a ciência moderna não se constitui em
um panorama de bem e mal, mas sim devemos
levar em conta a sua característica contextual. A
dificuldade e possibilidades para o surgimento
de epistemologias alternativas. A aceitação da
diversidade epistemológica, que contribui para uma
visão ampla de ações e agentes sociais.
Devido às circunstâncias e à caracterização
do pensamento abissal como sufocador das
epistemologias gerais, surge a necessidade de um
pensamento pós abissal:
O pensamento pós-abissal parte da ideia de
que a diversidade do mundo é inesgotável
e que esta diversidade continua desprovida
de uma epistemologia adequada. Por outras
palavras, a diversidade epistemológica do
mundo continua por construir (SANTOS,
2009, p. 44).
A) O pensamento pós-abissal surge da
concepção de que a diversidade do mundo é
inesgotável, e que a diversidade carece de uma
epistemologia apropriada.
B) O pensamento compreende que a exclusão
social toma diferentes formas, e enquanto a
exclusão abissalmente continuar não é permitida
qualquer alternativa pós-capitalista progressista.
C) O pensamento pós-abissal é um pensamento
que não é derivativo, pois consiste numa ruptura
com os modelos ocidentais e a condição para
sua existência é a presença da copresença radical
identificando as práticas e agentes dos dois
lados da linha são contemporâneos em questões
igualitários. C)A copresença radical, abandona
a concepção linear da História, a negação da
guerra e da intolerância, nos levando a uma nova
maneira de compreender a história, ressaltando que
contemporaneidade é simultaneidade, entendendo
que agentes e ações são contemporâneos e iguais.
Partindo da concepção da pluralidade de
conhecimentos heterogêneos, uma diversidade
epistemológica do mundo, o pensamento pós-
abissal compreende o que Boaventura coloca
como: ecologia de saberes sendo essa gama de
multiplicidades de conhecimentos, que consiste
na ideia que o conhecimento é interconhecimento,
ou seja, visa aprender outros conhecimentos sem
esquecer os próprios. Cada saber existe dentro de
uma diversidade de saberes, e não se compreende
um saber sozinho sem se referir aos outros saberes.
É uma espécie de contra-epistemologia, que nega a
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existência de uma epistemologia geral e se baseia
no reconhecimento da pluralidade de saberes.
Evidenciando outras formas de conhecimento
além do conhecimento científico, renunciando
qualquer epistemologia geral. O principal desafio da
ecologia de saberes é a crença moderna na ciência
(seja como crença ou ideia) sendo como uma das
formas de conhecimento válido, uma das principais
características do pensamento abissal. (SANTOS,
2009 p 46)
A ecologia de saberes não concebe os
conhecimentos em abstrato, mas antes como
práticas de conhecimento que possibilitam ou
impedem certas intervenções no mundo real.
(SANTOS; MENESES, 2009, p 49)
A ecologia de saberes se faz presente, como
um meio de intervenção no real e um diálogo
na sociedade, se consolidando em um aspecto
pragmático e epistemológico. Consiste na busca
da inter-subjetividade levando em conta que cada
prática de conhecimento tem lugares, diferentes
durações e ritmos diferentes, a intersubjetividade
promove a disposição para conhecer e agir e escalas
diferentes, articulando diferentes durações. A partir
dessa caracterização como pragmática o objetivo é
dar vozes a diversos conhecimentos que possibilite
a inserção e a maior participação dos grupos sociais.
Epistemologias do sul vem a ser uma alternativa
para a denúncia do pensamento abissal que
constitui-se perante uma hegemonia que sufoca
outros conhecimentos, baseado em um modelo
epistêmico da ciência moderna ao modelo de
racionalidade. O pensamento abissal se baseia em
linhas imaginárias que divide o mundo (Norte, Sul)
os que estão do lado de cá e o lado de lá, mas o outro
lado da linha toma-se como inexistente, abafando e
amordaçando estes, em relação a cultura e saberes.
Para quem ser membro da humanidade
histórica – isto é, estar deste lado da linha –
significava ser um grego e não um bárbaro
no século V a.C., um cidadão romano e não
um grego nos primeiros séculos da nossa era,
um cristão e não um judeu na Idade Média,
um europeu e não um selvagem do Novo
Mundo no século XVI, e, no século XIX, um
europeu (incluindo os europeus deslocados
da América do Norte) e não um asiático,
parado na história, ou um africano que nem
sequer faz parte dela. (SANTOS; MENESES,
2009, p 45)
Esse predomínio epistemológico reprimiu
outras epistemologias e culturas no decorrer
da História, o que o autor chama de
epistemicídio. Diante desta hierarquização
de um pensamento dominante surge a
necessidade de um pensamento pós-abissal que
compreende a pluralidade de conhecimentos
heterogêneos, uma diversidade epistemológica
do mundo,existindo co- presença radical
identificando as práticas e agentes dos dois
lados da linha são contemporâneos em questões
igualitárias assim havendo a ecologias de saberes
que afirma que conhecimento é interconhecimento
assim reconhecimento da pluralidade de saberes.
Recuperando outras formas de conhecimento
além do conhecimento científico, sendo um
meio de intervenção no real e estabelecendo um
diálogo na sociedade, se firmando em um aspecto
pragmático em derivação da intervenção no real e
epistemológico, dotado de um intersubjetividade,
compreendendo suas epistemologias em suas
especificidades e durações.
referências
BOAVENTURA, S. S Meneses, M.P
Epistemologias do Sul. Coimbra. Almeidina , 2009.
GOMES, Fúlvio de M. As Epistemologias do
Sul de Boaventura de Sousa Santos: por um resgate
do sul global. Revista Páginas de Filosofia, v.4, p,
39-54, dez 2012.
REVISTA CRÍTICA DE CIÊNCIAS SOCIAIS.
Tema: Epistemologias do Sul. n.80, 2008. Disponível
em :http:qqrees.revues.org/681.
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Volume 18, nº 1, julho de 2015
Revista Uniara
SOUSA SANTOS, BOAVENTURA DE
(1987); Um Discurso sobre as Ciências; Edições
Afrontamento:Porto; 1988.
Disponível em :
index.htm> Acesso em 05 de maio de 2014
Disponívelem
sousasantos.pt/ media/cv_BSS_actual.pdf> Acesso
em 05 de maio de 2014
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